31 dezembro 2010

Uma boa Passagem de ano para todos!



(para quem não conhece, a imagem é retirado do vídeo do ano. Oiçam a letra, cantem-na aos berros e não se escandalizem: estes senhores, os Lonely Island, são peritos em fazer este tipo de músicas a gozar, e são tão famosos nos States que até convidam personalidades famosas para participar nos seus vídeos - neste caso o Akon, a Jessica Alba e a Blake Lively. Brincalhões, piratitas, maltrapilhas.)

29 dezembro 2010

Eu ia escrever algo assim, mas depois veio o MEC e adiantou-se

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”

Miguel Esteves Cardoso

26 dezembro 2010

Vai Gervásio, são os teus anos!

Para mim a segunda quinzena de Dezembro é como uma enorme festa cigana. A coisa começa lá para dia 15, com o final das aulas e o início das festas de Natal de tudo quanto é instituição em que estou minimamente envolvida. Jantar com os amigos da família, jantar do pessoal da orquestra, jantar do IGL, jantar do fim do mundo – de repente toda a gente quer jantar com toda a gente. Comemora-se o final das aulas com uma festa, o início das férias com outra festa – toda a gente tem de começar a estudar, toda a gente o sabe mas toda a gente o escolhe ignorar entre uma cerveja e outra. 

Dia 24 começam as festividades familiares – e aí a coisa complica-se. Jantares que começam às 17h, almoços que duram até às 23h, primos que uma pessoa já nem se lembrava que tinha, comer entradas como se não houvesse amanhã e depois lamentar já não ter fome para a “comida a sério”, substituir o sangue nas veias por chocolate líquido...

E quando já ninguém aguenta tanta reunião, tanta comida, tanta festa e tanto vinho, eis que chega dia 26 e eu sou obrigada a dizer às pobres almas que não foram sugadas para festas familiares na terrinha: “Lamento, a sério que lamento, meus amigos… mas é o meu dia de anos, portanto vamos ter que festejar. Outra vez.” 

Falar do meu 21º ano de vida é quase o mesmo que falar de 2010, mais 6 dias menos 6 dias. E, ao contrário de 2009, que foi o ano das coisas familiares e calmamente felizes, 2010 foi o ano das grandes decisões e mudanças. Foi o ano mais adulto e no entanto mais descontroladamente louco da minha ainda curta vida. Foi o ano que me fez perceber porque é que toda a gente usa a marca dos 20 como referência (naquelas frases do género: “O quê, eu fazer isso? Mas tu achas que eu ainda tenho 20 anos ou quê?!” ou “Aaaahh, se eu ainda tivesse 20 anos…” ou talvez “Tens 20 anos? São os melhores anos da tua vida, aproveita-os!”). Verdade seja dita, ouvir esta última durante tanto tempo despertou em mim um medo parvo e irracional, com o qual luto quase diariamente, de não estar a aproveitar a vida ao máximo, de não conseguir sugar cada bocadinho espectacular que o mundo tem para me oferecer. Morro de medo de chegar ao fim da linha e perceber que a vida me passou ao lado, que houve coisas que devia ter feito e que não fiz. E talvez por isso sigo sempre aquela velha máxima que diz que é preferível uma pessoa arrepender-se das coisas que fez do que daquelas que não fez – e até agora não me dei mal.

Este meu 21º ano de vida foi o ano ideal para testar essa teoria; e assim como assim a coisa resultou no seguinte:

- mudei a minha residência oficial de ‘Lisboa, Portugal’ para ‘Turim, Itália’;
- deixei de ser aluna do Instituto Gregoriano de Lisboa, pela primeira vez em 11 anos;
- fiz grandes amigos (e percebi que nem só maus ventos e maus casamentos vêm de Espanha);
- bati seguramente algum tipo de record em tempo seguido a chorar compulsivamente;
- apaixonei-me por pessoas altamente improváveis;
- perdi amigos que pensava que iam ser para a vida (e percebi que perder um amigo é um processo 30x mais doloroso do que perder um namorado);
- tomei algumas das decisões mais corajosas da minha vida;
- tomei algumas decisões muito, muito estúpidas;
- ri literalmente até às lágrimas, várias vezes;
- percebi da pior forma o que é uma ressaca a sério;
- deixei que me partissem o coração;
- gastei o dinheiro que tinha -e o que não tinha também- num bilhete de avião para a Cidade do México, para rever um grande amigo (que mal posso esperar por usar);
- revi os (meus) grandes clássicos do cinema;
- percebi que as grandes amizades não só sobrevivem como até se fortalecem com as maiores distâncias;
- em menos de 2 dias fui à Queima das Fitas de Coimbra, tive uma das noites da noite da minha vida enquanto apanhava a molha da minha vida, voltei para Lisboa menos de 24 horas depois de lá ter saído e vi o Benfica ser campeão – tudo isto sem dormir e na melhor companhia possível;
- fui acampar pela primeira vez;
- resolvi finalmente fazer a tatuagem que me andava a perseguir há anos;
- vi mais jogos de futebol (ao vivo e na televisão) do que em todos os outros anos juntos;
- passei mais tempo em discotecas do que em todos os outros anos juntos;
- comi maior quantidade de Nutella do que em todos os outros anos juntos;
- aprendi a falar italiano;
- aprendi a falar espanhol (com um sotaque português espectacular);
- fiz uma viagem por toda a Holanda;
- voltei a Barcelona e a Milão (e entrei no La Scala!);
- dei aulas de violoncelo e fui feliz a fazê-lo;
- fiz em concerto algumas das obras mais bonitas (e mais difíceis) da história da música;
- provei receitas culinárias que nunca tinha experimentado (incluindo língua de vaca, que descobri que afinal sabe a mortadela);
- percebi que a frase “Pizza is like sex: even when it’s bad, it’s good” afinal não corresponde à realidade;
- fui forçada a trocar de relógio (o que para mim é um processo extremamente doloroso) e fiquei contente com o resultado;
- engordei 8 kgs, e descobri que nunca me tinha sentido tão bem comigo própria;
- visitei Aveiro, Coimbra e outras cidades portuguesas onde nunca tinha estado;
- cumpri 4 itens da minha lista de coisa a fazer antes de morrer;
- acrescentei mais 6 itens a essa mesma lista;
- experimentei um vestido de noiva só por brincadeira e percebi rapidamente que aquilo não é para mim (apesar de ter passado a minha infância a responder que queria ser noiva quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande);
- descobri que afinal adoro cheesecake;
- experimentei começar a pintar as unhas de cores escuras e acho que não me dei mal;
- disse e fiz coisas de que me orgulho especialmente porque sei que não teria sido capaz de as dizer/fazer há uns anos (e chama-se a isso crescer, não é?);
- aprendi a não me levar demasiado a sério - afinal, já tenho 21 anos... mas ainda tenho 21 anos.

Portanto, como eu estava a dizer: foi um ano do caraças. Obrigadinha a todos os que para isso contribuíram, que sem vocês não teria sido possível. (Olhem para mim, 21 aninhos e já a soar a Miss Universo.)

Agora venha o próximo, camandro!

24 dezembro 2010

Eu não sou uma pessoa muito natalícia. Quando me dizem frases do género "Ai que booom, já falta tão pouco tempo para o Natal!" costumo mesmo responder com um categórico "Odeio o Natal". Normalmente depois sou fuzilada pelo olhar do meu interlocutor, mas pronto, isto são riscos que uma pessoa tem de correr.

Claro que, como provavelmente metade da população do mundo ocidental, tendo a associar o Natal a discussões e outros family issues (adoro-os, quem não os tem?). Mas nem é por isso. É mesmo porque me irrita a parvoíce consumista que vem ao de cima nas pessoas nesta época. Eu ainda percebo que se ofereçam coisas bonitas aos familiares ou amigos mais próximos. O que não compreendo de todo é a necessidade de comprar prendas a pessoas de quem não se gosta verdadeiramente, só porque "tem de ser", porque "parece mal não dar nada". A mim o que me parece mal é a hipocrisia de não ir com a cara do vizinho do 5º esquerdo, mas ainda assim gastar 6€ numa caixa de bombons para lhe oferecer, que ele vai provavelmente oferecer à vizinha do 2º direito, que por sua vez a vai seguramente reciclar numa bela prenda para a porteira, que num gesto de enorme gratidão ma vai oferecer mais tarde como prenda de anos. Para quê? Não seria tudo muito mais fácil e honesto se nos limitássemos todos a um simples "Boa tarde!" quando nos cruzássemos no elevador?

E irrita-me que a caridade só esteja na moda nesta altura. O mundo seria um lugar melhor se as pessoas se lembrassem de ajudar os outros durante o resto do ano e não só durante estes 15 dias, que basicamente servem para nos aliviar a consciência durante os outros 350 (ou 351, em anos bissextos! Vade retro!).

Mas o que me irrita mais é receber mensagens a desejar boas festas de pessoas que literalmente não me dirigem a palavra durante o resto do ano. Pessoas que eu nem sabia que ainda tinham o meu número. Pronto, eu sei que as mensagens são à borla, e até agradeço que se lembrem de mim para fazer parte do nobre gesto de enviar a mesma mensagem impessoal às 126 pessoas da lista de contactos, mas cheira-me que se quisessem realmente que eu tivesse umas festas felizes me ligavam a combinar um café ou assim... Não sei, digo eu.

Basicamente: não engraço com o conceito de Natal, pronto. São coisas da vida. Podia ter-me dado para pior.

No entanto, e como nem tudo são desgraças, engraço muito com a parte que envolve ficar quentinha dentro de casa a ver a chuva cair, conscientemente a ignorar o facto de ter trabalho para fazer e no entanto sem alimentar quaisquer sentimentos de culpa (é Natal, ninguém leva a mal! Hmm, não era assim?). E normalmente gosto de acompanhar isso com molhar quadradinhos de chocolate preto em chá a escaldar, enquanto vejo filmes que me deixam quentinha por dentro, rodeada pelas luzes que a minha mãe insiste em espalhar pela casa (com as quais eu refilo sempre, mas que secretamente adoro). Este ano ando assim a atirar para os clássicos:





 
E já agora, se alguém estiver sem ideias para prendas de anos para mim (é já no domingo, é favor não esquecer!) este senhor foi o meu primeiro amor, e desconfio que há de ser o último. Se pudesse ser o exemplar original, coberto de poeira e ainda em loiro, ficava-vos eternamente grata. É só uma dica.

22 dezembro 2010

(correndo o risco de citar Boss AC mas ainda assim citando) Ainda bem que há dias assim!

Há dias que correm mal, do início ao fim. Dias em que acordamos mal dispostos, em que a água fica fria a meio do duche, em que perdemos o metro, em que só recebemos más notícias e em que o nosso cabelo parece ter vida própria. Nesses dias parece que atraímos tudo o que há de mal neste mundo, e que à medida que as horas vão passando o dia vai ficando cada vez mais cinzento - tal como o nosso humor. E quando finalmente acaba damos connosco a querer ir dormir apenas para chegar mais rapidamente ao capítulo seguinte e poder pôr este para trás das costas.

Estão a ver esses dias?

Pois hoje foi um daqueles dias... que é o oposto desses dias. :) Começou bem, correu melhor e acabou em beleza. Melhor - acabou com a promessa de um dia seguinte tão ou ainda mais espectacular do que este.

Gosto mesmo das minhas pessoas. De todas e de cada uma delas.

19 dezembro 2010

"Raça, Querer e Ambição"

Eu não percebo muito de futebol. Aliás, eu percebo muito pouco de futebol. Sei os mínimos, as regras gerais impostas a quem vive em Portugal e a quem teve educação física. Só sei um pouco mais do que isso porque, desde pequenina e movida pela curiosidade de assistir incrédula à transformação que se dava nas pessoas do meu agregado familiar quando a bola começava a rolar, fui fazendo perguntas ao longo dos anos, numa tentativa de compreender o que as levava a transformar-se, por 1 ou 2 horas, mais ou menos um dia por semana, em pessoas que gritavam impropérios para uma televisão que não as conseguia ouvir, e que se enervavam quando um homem mostrava cartões coloridos aos outros que corriam pelo campo verde.

Ao longo destes anos todos fui acatando sem questionar o meu lugar neste meio, interiorizando que sou a) mulher, b) mulher jovem, e c) mulher jovem rodeada de homens ansiosos que insistem em salientar que eu não percebo nada de horta. Assim habituei-me a observar, e a aprender a deslindar em que momentos seria menos inoportuno fazer uma ou outra pergunta mais ou menos idiota (mental note: nunca em situação de canto. Ou de penalty. Ou de qualquer livre considerado minimamente perigoso.)

Não percebo muito de futebol, portanto. Não estou dentro das tácticas, percebo pouco de contratações. Compreendo o conceito de fora-de-jogo (ao que parece é daqueles com que a maioria das mulheres não atina) mas não vou muito além disso. E por isso não comento. Não gosto de falar do que não sei com certeza, portanto limito-me a observar e ir fazendo comentários para dentro.

Sempre gostei de ir ao Estádio, mas nunca fui muito assídua - lá está: miúda e jovem, não era grande companhia para os grandes que queriam festejar com as claques, e independência (sobretudo financeira) também era algo que não primava ainda por estes lados. Logo, fui aos jogos para os quais me convidaram, sempre sob a alçada protectora de um familiar atento.

Não estou portanto nisto há muito tempo. Sou benfiquista desde que me lembro, claro, mas porque não tive outra hipótese - pai, irmão, tios, primos e avô (im)puseram-me essa responsabilidade no momento em que nasci. A primeira vez em que a minha mãe me deixou ir a um jogo foi aos 14 anos (porque os estádios de futebol são antros do demónio) e nem cheguei a ver a primeira Catedral por dentro. Desde sempre que festejo cada vitória do Benfica e sofro com cada derrota, é claro - mas porque me era inato, não porque realmente percebesse o significado de mais ou menos 3 pontos no campeonato.

Mas nos últimos 2 anos, um pouco por desígnio do acaso mas também muito por empurrão alheio, dei por mim no meio de um estádio de futebol, várias vezes, a gritar pelo Benfica com todo o ar que tinha nos pulmões. Não sei bem porquê; nada indicava nesse sentido na minha vida (a não ser os inevitáveis antecedentes familiares, claro). Comecei a ter interesse no assunto, a querer aprender os nomes e as posições dos jogadores, a não desligar o cérebro quando alguém sintonizava 'O Dia Seguinte' e a observar com outros olhos as tácticas de jogo (olhos-de-quem-vê, e não olhos de-quem-olha-na-direcção-da-TV-mas-está-a-pensar-na-conversa-que-teve-ontem).

E talvez por isso mesmo já me têm perguntado: "Mas porque é que vais ao estádio? Não vês o jogo muito melhor em casa, no conforto do sofá e com as repetições e os comentários, ainda por cima sem arrotar 20€?". E a essas pessoas eu gostava de conseguir explicar a sensação familiar que se tem ao trocar olhares cúmplices ou encolher de ombros conformados com as pessoas sentadas ao nosso lado (que não conhecemos) simplesmente porque ambos sabemos que o árbitro nos acabou de roubar. Gostava de conseguir explicar a sensação de ver uma Águia sobrevoar um Estádio inteiro para depois pousar no símbolo do nosso clube, ao mesmo tempo que 50.000 pessoas se levantam e explodem em aplausos. Gostava que conseguissem perceber o que é sentir um Estádio inteiro a respirar fundo num "aaaahh..." coordenado e monofónico quando a bola roça a trave pelo lado de fora. Gostava de explicar, mas não consigo. E desconfio que mesmo que algumas dessas pessoas pudessem estar lá comigo, continuariam sem perceber do que estou a falar.

Acho que é mesmo assim, a magia de ser Benfiquista. Não se questiona, não se impinge, não se usa como bandeira. Simplesmente vive-se. E sofre-se... às vezes muito. Mas compensa sempre.




Ontem fui ao Estádio pela primeira vez em 3 meses. Nota-se muito?

There and back again

Depois de chegar a Milão com 2 horas de antecedência (não fosse o diabo tecê-las, que estes italianos agora acham graça às greves de transportes surpresa) apenas para constatar que o voo estava atrasado outras tantas, dei por mim simplesmente sentada numa cadeira a olhar para os Alpes e a desejar não sair daquele aeroporto. Queria ficar assim num meio termo: nem em Turim nem em Lisboa, a meio caminho, com um olho nos cumes nevados mas com o coração já a vislumbrar o Tejo. Caraças, que ninguém me avisou que esta coisa de fazer Erasmus nos deixava o coração partido em dois.

Saiu-me a muito, muito custo o primeiro "obrigado" - tive um pequeno bloqueio de 2 segundos a olhar para a hospedeira que me serviu o café no avião. "Grazie" tem menos sílabas e soa tão melhor. Mas oito dias, dois pastéis de Belém e um-número-propositadamente-não-discriminado de Sagres depois, já me sinto quase em casa.

Lisboa está igual. Lembro-me de que quando era pequena e íamos passar um mês de férias ao Meco, quando voltávamos tudo me parecia irremediavelmente diferente. Bastava mudarem os cartazes publicitários e terminar uma ou outra obra nos arredores de casa para Lisboa me parecer um lugar completamente novo.

Estive fora 2 meses e meio. Nunca tinha estado tanto tempo fora de casa. E neste tempo não mudou Lisboa - mudou a forma como olho para ela. A perspectiva que se ganha por ter estado tanto tempo fora muda em completo coisas tão pequenas e habitualmente banais como percorrer a Av. de Roma ou ir ao cinema. Parece metafísico e lamechas, não é? Coisas de emigrantes; quem não percebe nunca vai perceber até que se ponha a andar daqui para fora.

Mais coisas de emigrantes - regra nº1 da sobrevivência Erasmus: quanto mais depressa encontrares uma palavra que faça sentido na língua em que te estás a tentar exprimir, mas que também exista nos dicionários da tua língua materna (apesar da na realidade ninguém no teu país a utilizar) mais facilmente te conseguirás fazer entender com pouco espaço cerebral ocupado com vocabulário novo, e assim mais depressa te farás entender e mais depressa serás aceite e integrado. É esta a explicação para agora só me saírem da boca expressões com esqueleto português mas alma espanhola, como "que asco", "dá igual", "são coisas", "em sério?", "que hora é?", "ir de compras", etc etc etc. (Pinches españoles que me joden el portugues, hijos de una hiena!!)

Mas aaahhh, que maravilha poder sair de casa sem casaco quando está sol (em Turim pode estar a fazer um sol espectacular, mas vão sempre estar no máximo 5ºC lá fora) e poder sair à noite e voltar de táxi para casa à hora que me apetecer, sem ter de esperar pelo autocarro nocturno que só passa à hora certa (e que durante a semana só passa a partir das 5h da manhã. Depois queixam-se que um gajo não vai às aulas). Mas a melhor parte é poder viver as pessoas, cada uma delas; ainda não inventaram um Skype que substitua este calor humano.

Ah, pequena nota final: até 21 de Janeiro faço questão de não comer pizzas, massas ou qualquer tipo de refeição que tenha como base tomate e/ou queijo mozzarella. Não me tentem, que não vale a pena. Ganhei-lhes ASCO.

05 dezembro 2010

Solitary


Adoro quando o Solitário tenta fazer pressão psicológica comigo.

“Tem a certeza que pretende desistir deste jogo? Vai contar como uma derrota nas estatísticas.”

Caramba, que nem com o nosso próprio computador estamos a salvo de julgamentos e avaliações.

04 dezembro 2010

Hey, I have a question...

Porque raio é que há rapazes que, quando sozinhos com uma rapariga ou na companhia de pouca gente, são as pessoas mais impecáveis do mundo (respeitadores, divertidos, amáveis, sinceros, uns fofinhos), mas que quando se juntam com o seu grupo de amigos rapazes do costume se transformam de repente em autênticos burgessos, pessoas sem a mínima ponta de graça?

Não se acanhem com as respostas, que esta não é de todo uma pergunta retórica. Gostava mesmo de saber, sempre se poupava muito tempo mal investido nas pessoas erradas.

02 dezembro 2010

Another one bites the dust

Sabes que estás viciado nalguma coisa quando te apercebes de que tens de recorrer a substitutos quando não a tens ao teu alcance.

No meu caso, isso pode por vezes envolver comer chocolate em pó à colherada.

01 dezembro 2010

Perfect vs. FAIL

[favor carregar no play antes de começar a ler]





Cenário: Turim, 20h da noite. Noite cerrada, rua deserta, iluminações de natal, neve a cair por todos os lados. Eu à espera do eléctrico, de guarda-chuva amarelo a proteger-me (mal) dos flocos do tamanho de bolas de pingue-pongue que iam caindo calmamente.

Nunca tinha reparado nisto, provavelmente porque nunca tinha visto cair neve fora de uma estância de ski, mas a neve cai com uma calma que a chuva não tem. Cai com a delicadeza que só as coisas verdadeiramente brancas têm. E cai com calma, devagar, em silêncio. Pede para ser observada, pede que tiremos 5 minutos das nossas vidas extremamente atarefadas para nos determos ali, ao frio, simplesmente a vê-la cair.



A música que tocava nesse momento no meu iPod era aquela lá de cima. E o eléctrico não chegou, e portanto eu fiquei ali - sozinha, debaixo do meu guarda-chuva amarelo, a ver a neve cair calmamente por cima das iluminações de natal.

E por mais que a vida às vezes seja um grande cagalhão cheio de injustiça, poluição e fome, naquele momento o mundo -pelo menos o meu mundo- foi perfeito.

E aquele foi o meu momento. O mais solitário, o mais bonito, o mais calmo, o mais meu. "Cansada, calma e feliz."

--

Até que ele se aproximou. Relembro que eu estava sob o efeito de tudo o acima descrito; naquele momento estava crente na beleza do mundo e tinha fé na bondade dos homens. Ele aproximou-se e tinha neve no cabelo e o nariz vermelho do frio. Vinha de mãos nos bolsos, ombros encolhidos e tinha olhos de cachorrinho abandonado impossíveis de evitar, mesmo na escuridão daquela noite. E, quando se aproximou, perguntou-me num inglês perfeito: "Excuse me... Do you know at what time is the next 13 arriving?"

E eu, perdida no meu mundo subitamente perfeito e no seu ar incrivelmente cativador-olhem-para-mim-sou-um-americano-de-20-e-poucos-anos-e-estou-perdido-em-Turim, lá lhe respondi que o 13 era o que vinha já lá ao final da rua. E depois, embalada pela música do Legendary Tiger Man e pela pena que me invadiu o coração ao ver que a neve lhe molhava ainda mais o casaco e o cabelo de cada vez que lhe caía em cima, abri a boca num sorriso simpático... E, do nada, saiu-me um:

"You can stand under my umbrella... if you want."

E um segundo depois de proferir esta frase percebi que se tinha desvanecido o meu mundo perfeito, o meu americano em Turim, a minha neve a cair, porque todo o meu cérebro foi rapidamente invadido por imagens da Rihanna a abanar o rabo e a cantar "You can stand under my umbrella... ella... ella... ella..."

(Ou, porque uma imagem vale mais que mil palavras, o seguinte vídeo ali no 1min e 10segs)




E restou-me ignorar o seu olhar embaraçado (que seguramente também tinha a Rihanna às voltas no cérebro), abafar uma gargalhada, entrar no eléctrico que entretanto tinha chegado com os restantes comuns mortais, e seguir com a minha vida - já não tão perfeita, mas seguramente mais divertida... pelo menos por esta noite.

30 novembro 2010

Um Domingo Qualquer

9h30 da manhã, domingo. Acordo com alguém aos pulos em cima da minha cama. Ora, eu não me lembro de ter um filho de 6 anos, assim de repente. Nem me lembro do calendário ter saltado um mês e de já ser Natal.

Não, não era um puto de 6 anos nem era Natal. Era só um espanhol de 26 anos aos pulos em cima da minha cama e a gritar: "Esta nevando! Esta nevando!"

Lá me levantei, a grande custo. (Domingo. 9h30 da manhã, volto a repetir). Mas quando me aproximei da janela escapou-se-me um "aaaww" e soube imediatamente que tinha valido a pena sair do conforto dos lençóis. O espectáculo era tipo 'noite-de-natal-em-filme-americano'. 




Claro, o nosso bairro é feio que dói, e das nossas traseiras então nem se fala... Mas caramba, com tudo branquinho quase que podia mesmo ser o tal filme americano. Só nos falta a árvore de natal. E as luzes. E as prendas. E as pessoas forradas de dinheiro. Mas estamos mesmo quase, quase lá.

28 novembro 2010

Duas semanas, por favor.


(sim, esta foto é da minha autoria, e sim, a aula estava a ser realmente secante. 

e sim, eu vou às aulas. 

algumas.)

26 novembro 2010

21 a 26

Daqui a um mês faço 21 anos (eu sei, eu sei, sou uma criança). E para além de depois desse dia já poder voltar a Nova Iorque para me vingar do barman que há coisa de 2 anos me recusou uma cerveja (hmpf), para mim peço apenas isto:



e



A primeira já cá canta, dia 10 do próximo mês respiro fundo.

Quanto a realizar o incrível sonho da segunda, quem quiser contribuir -sei lá, porque se sente culpado por nunca me ter dado uma prenda de anos, porque ao fim e ao cabo eu sou uma pessoa espectacular ou porque o Natal é época de ajudar os pobrezinhos- é só pedir o NIB. A malta agradece e depois manda o postalinho :)

25 novembro 2010

Neste momento:

Ler o texto em italiano --> tirar dúvidas sobre algumas palavras com
o dicionário italiano-espanhol --> compreender e organizar as ideias em português --> escrever o resumo em inglês.

Quando já só tiver um neurónio tenho de gritar "Uno"?

24 novembro 2010

Não sei se é possível

Ainda não consegui perceber se isto é a gozar ou não. Mas a verdade é que me estão a fazer estudar este artigo para a aula de 5ª feira:

"Head and neck injury risks in heavy metal: head bangers stuck between rock and a hard bass"
Declan Patton, research assistant, Andrew McIntosh, associate professor


« Objective: To investigate the risks of mild traumatic brain injury and neck injury associated with head banging, a popular dance form accompanying heavy metal music.

Participants: Head bangers.

Main outcome measures: Head Injury Criterion and Neck Injury Criterion were derived for head banging styles and both popular heavy metal songs and easy listening music controls.

Results: An average head banging song has a tempo of about 146 beats per minute, which is predicted to cause mild head injury when the range of motion is greater than 75°. At higher tempos and greater ranges of motion there is a risk of neck injury.

Conclusion: To minimise the risk of head and neck injury, head bangers should decrease their range of head and neck motion, head bang to slower tempo songs by replacing heavy metal with adult oriented rock, only head bang to every second beat, or use personal protective equipment.

(...)

Young people at heavy metal concerts often report being dazed and confused, possible symptoms of mild traumatic brain injury. (...) Though exposure to head banging is enormous, opportunities are present to control this risk—for example, encouraging bands such as AC/DC to play songs like “Moon River” as a substitute for “Highway to Hell”; public awareness campaigns with influential and youth focused musicians, such as Sir Cliff Richard; labelling of music packaging with anti-head banging warnings, like the strategies used with cigarettes; training; and personal protective equipment. »


É que já estou mesmo a ver uma data de metaleiros na fila da frente de um concerto de Slipknot, cada um com a sua protecção para a cabeça.

23 novembro 2010

Luta greco-romana

Porquê? Porque era um daqueles dias em que estava extremamente aborrecida em casa e a precisar de libertar energias. Qualquer criatura sã teria calçado os ténis e ido correr para o parque. Eu não encontrei nada melhor do que desafiar um dos meus espanhóis -criatura com mais 6 anos, 10 cms e muitos quilos em massa muscular do que eu- para uma luta.

Ele tem não sei quantos anos de prática de luta greco-romana. Eu? Anos de prática de batatada com o meu irmão.

Resultado final? Eu completamente imobilizada no chão, com um terceiro espanhol a tentar decidir se me faria o bigode com uma esferográfica azul ou uma preta, algumas dores nos membros superiores (12 horas depois) e um ataque de riso daqueles de provocar dores nos abdominais e de fazer escorrer lágrimas pela cara abaixo.

Desculpem, mas tinha mesmo de dizer isto

É maravilhoso perceber que, mesmo a 2000 kms de distância, há pessoas que vão sempre continuar a perceber-me a cada sílaba, cada gesto ou cada silêncio; pessoas que não me deixam sentir os 2000 kms de distância, que me fazem perceber que a dita cuja é meramente geográfica.

É também maravilhoso perceber que, mesmo 7 ou 8 anos depois da "paixão" inicial, há pessoas que nos continuam a surpreender, a orgulhar e a inspirar a sermos pessoas melhores a cada dia que passa.

E é ainda mais maravilhoso sentir que uma conversa de 3 minutos às 3h30 da manhã com uma pessoa a 10.000 kms de distância é o beijinho de boa noite mais aconchegante que já tive aqui.

Tenho muita, muita sorte em ter pessoas que me inspiram aos mais altos e diversos níveis, todos os dias e por mais longe que esteja. Pessoas que me amam incondicionalmente, que gozam com as minhas pequenas parvoíces que logo aceitam imediatamente, que me fazem querer ser uma pessoa melhor. Pessoas cuja presença na minha vida eu pura e simplesmente não questiono, seja em que (ou para que) momento for - pessoas que me fazem sentir acompanhada e aconchegada em coisas tão igualmente importantes como uma conversa sobre temas filosóficos, uma ida à praia ou o funeral do meu pai. Pessoas que me fazem pensar, ao ouvir o telefone tocar: "São 3h da manhã... mas para ti tenho sempre tempo".

São poucos -cada vez menos à medida que o tempo vai passando, claro- e estão cada vez melhores. Uma enorme vénia aos meus amigos, aqueles que merecem o 'bold' na coisa.


PS- Já li e reli isto 20 vezes e continuo a achar que não lhes faz jus, nem de perto nem de longe. Enfim, fica a tentativa possível através do pouco que conseguem transmitir as palavras.

22 novembro 2010

Ultimato #1

Acordarem-me aos berros e murros na minha porta a não sei que horas da madrugada para "saber se estava sozinho em casa" vai ter de acabar rapidamente.

Um dia vão começar a rolar cabeças cá em casa. Depois não digam que eu não avisei.

19 novembro 2010

Desculpem, deve ter havido um engano

Eu vim de Erasmus para Itália porque diziam que havia sol. Claro, a faculdade de Psicologia de Turim é supostamente a melhor da Europa na área das Neurociências, que até é o que eu quero fazer da vida, mas quem é que quer saber disso?

Prometeram-me sol! E são 17h05 e acabou de anoitecer. E dizem que para a semana vai começar a nevar.

Quero o meu dinheiro de volta.

Kinsey wannabe

Pá, a sério. Uma pessoa quer ir às aulas, até se esforça por aprender, e depois vai-se a ver e dá nisto.

Hoje levantei-me cedo, cheia de boas intenções e de vontade de fazer algo de útil desta vida. E cheguei à Aula Magna do Palazzo Nuovo a horas mais ou menos decentes, se bem que a aula já tinha começado.

Estranhei uma sala com capacidade para 430 pessoas estar quase cheia às 10h da manha de uma 6ª feira, realmente estranhei. Percebi logo que alguma coisa de muito estranho se devia estar a passar ali. E devia ter confiado nos meus instintos de estudante com muitos anos de experiência... Psicologia da Comunidade não é assim tão apelativo. Muito menos de repente e a meio do semestre.

E à medida que o italiano do homem que estava sentado em cima da secretária do professor se foi entranhando no meu cérebro (tanto quanto uma língua estrangeira se consegue entranhar num cérebro com 5 horas de sono em cima) fui-me lentamente apercebendo de que não era por acaso que era um homem e não a professora do costume a dar aquela aula hoje. E que não era por acaso que a sala estava cheia de estudantes sorridentes. Sim, estudantes sorridentes dentro de uma sala de aula, às 10h da manhã de uma 6ª feira.

E por fim o meu cérebro fez o clique final. "&%$£°#, esqueci-me que esta semana trocam os módulos, e portanto os horários."

E percebi.

"Isto não é Psicologia da Comunidade... Isto é uma aula de Psicologia do Comportamento Sexual."

E eu até sou uma pessoa tolerante, interessada e tudo o mais. Não faço parte (graças a deus) daquele grupo idiota de pessoas que aos 21 anos ainda se riem à socapa quando um professor diz "pénis" numa aula.
 Mas isto é demais até para a minha mente aberta. Ainda nem são 11h da manha e já levei com uma enxurrada de "lubrificação vaginal", "ânus", "líquido seminal", "excitação", "fazer deslizar a glande pelo pénis", "fases da relação sexual", "vaginismo", "carícias orientadas pela libido", "ejaculação precoce" e outros que tais.

Ainda tenho as tostas com queijo fresco à volta no estômago e ja aprendi que "o orgasmo feminino é uma contracção involuntária, arrítmica e precisa no tempo dos músculos da vagina" e que "as raparigas não devem confundir o orgasmo com o máximo de prazer que já tiveram - pode não ser o mesmo".

Caramba, isto não é psicologia do comportamento sexual - isto é educação sexual para miúdos de liceu, e daquela piorzinha.

Destaco só por último aquela frase que vai com toda a certeza martelar-me o cérebro até ao suicídio: "A maior parte das raparigas sente prazer, seja físico ou psicológico, ao sentir o pénis do seu companheiro a movimentar-se dentro da sua vagina".

Porra... Que bela maneira de acabar com a magia ainda antes da hora de almoço.

18 novembro 2010

O dia em que eu ia matando o Duarte (ou Um Susto do Caraças, que sempre soa mais a título de filme cómico)

Para mim era uma manhã como quase todas as outras em Lisboa: era demasiado cedo para estar na rua.
O Duarte ia apanhar um avião para a Alemanha e tinha-me pedido para o levar, a ele e ao Vicente, ao aeroporto. E eu, que sou demasiado boa pessoa (cof) e que tenho pouco que fazer, lá me apresentei à porta de sua casa às 8h30 da manhã, ainda com os olhos meio semi-cerrados.

O problema é que o Duarte tem uma 'Vespa' que não queria deixar à chuva e à mercê dos maganos lisboetas durante uma semana inteira. Mas, porque não tem garagem no seu prédio, ficou combinado que iríamos primeiro deixar a mota na garagem de uma amiga dele antes de rumarmos à Portela. Assim, o Duarte iria à frente na Vespa, e eu e o Vicente iríamos segui-lo no meu carro (que, já agora, não tem nada de meu. A não ser talvez a fenda no retrovisor esquerdo.)

Pois que às tantas chegámos ali ao Campo Grande, onde antes de passarmos o Bingo (ah, tiremos um momento para reflectir na bela instituição que é o Bingo do Campo Grande!) há um cruzamento que junta a rua-que-eu-não-sei-como-se-chama-mas-que-é-paralela-à-Segunda-Circular (onde íamos nós) com a outra-rua-que-eu-não-sei-como-se-chama-mas-que-contorna-o-Estádio-de-Alvalade-pela-esquerda-e-vai-em-direcção-ao-Campo-Grande.

Pronto, um pequeno recurso à tecnologia para fazer uma contextualização geográfica da situação:

 (eu e o Vicente somos a setinha amarela, o Duarte a azul, e os carros da rua à nossa direita a vermelha)

O nosso semáforo estava verde quando entrámos na rua, mas quando o Duarte se estava a aproximar do cruzamento passou a amarelo. O meu pensamento automático foi "ele está demasiado perto do semáforo para travar, ainda por cima o piso está molhado, ele vai passar o amarelo e eu também". E durante uns 2 segundos pareceu-me até que ele tinha acelerado - talvez por sugestão do meu inconsciente, não sei (com o choque do que se passou a seguir acabei por nunca discutir com ele os pormenores).

Mas ele travou. Talvez porque sabia que eu o estava a seguir e que não sabia o caminho para casa da sua amiga, provavelmente porque pensou que eu não ia ter tempo de passar também o amarelo, o Duarte travou a fundo mesmo em cima da linha do semáforo.

O que se passou a seguir pode ser considerado por alguns intervenção divina; para outros, foi uma sorte do caraças. Eu não sei. Para mim foi fruto de uma enorme injecção de adrenalina, que se traduziu numa maior e inesperada rapidez dos meus reflexos. Todos os factores estavam contra nós: era de manhã cedo, eu ainda não tinha tomado pequeno almoço nem tão-pouco bebido café, o piso estava molhado. Mas, mais do que tudo o resto, eu estava naquele momento dentro de um carro em movimento, em cuja rota de colisão se encontrava, a pouquíssima distância de mim e cada vez mais perto, um dos meus melhores amigos sentado em cima de uma Vespa, tão frágil perante o meu carro como o próprio animal que lhe dá nome perante um bisonte. O Duarte estava de costas, claro, e por isso sem qualquer noção do que estava nas minhas mãos e dependente desses dois segundos.

É impressionante como tudo pode mudar em dois segundos.

Um.

Dois.

Ainda hoje não sei como fiz aquilo. Se calhar foi mesmo intervenção divina - não por mim, que vou directa para o inferno sem passar na casa da partida, mas pelo Duarte, que é realmente uma boa pessoa e tem deus do seu lado (ou pelo menos trabalha para isso). Não sei como o fiz, mas naqueles dois segundos vi, para meu enorme horror, que o Duarte afinal tinha travado e que estava parado à minha frente. E apesar de irmos a uma velocidade perfeitamente normal, tive apenas o tempo e a capacidade de travar a fundo e de, ao aperceber-me no último segundo -com ainda mais horror- de que a distância era demasiado curta e de que iríamos chocar à mesma, virar o volante para a minha esquerda o suficiente para o meu farol direito ficar a três centímetros -literalmente três centímetros- da sua roda traseira.

Nesse momento o semáforo da rua à nossa direita ficou verde e os carros (aqueles da setinha azul lá de cima) avançaram em grande velocidade, como é habitual nesse cruzamento, em direcção ao Campo Grande.
Ou seja: se eu não tivesse tido atenção, presença de espírito, protecção divina ou seja lá o que for, tinha chocado contra a vespa do Duarte, ele tinha sido projectado para a frente, e provavelmente teria sido atropelado pelos carros que entretanto avançaram da nossa direita (que quase seguramente não teriam tido tempo de se aperceber da situação).


Não tenho com isto qualquer tipo de motivação moralista; não vou dizer para terem muito cuidado, para terem uma condução defensiva, ou para aprenderem com os meus erros. Não tenho moral nem idade para isso. Mas a verdade é que nunca estamos à espera de que estas merdas nos aconteçam. Achamos sempre que somos mais fortes, mais capazes, mais inteligentes do que os outros que fazem asneira. Passamos por eles e se for preciso rimos arrogantemente das suas inferioridades. Mas, no final do dia, somos todos pequenas criaturas a quem podem tirar o tapete de debaixo dos pés, quase sem que nos demos conta do como nem do porquê.

Um.

Dois.

É quanto basta.

Pois que hoje ao almoço foi assim:

[favor ler com o sotaque espanhol possível]

" - Está sol!
- Pois é! Até apetece ir à praia! Tenho saudades de ver o mar...
- Génova tem mar. E fica a 2 horas e 9€ de distância.
- Podíamos ir ver o mar...
- Hoje?
- Não, tipo agora.
- Hmm... Siga."


E assim foi.

Não há nada como acabar o dia num sítio completamente diferente daquele onde acordámos, sem que nada seja planeado com mais do que 15 minutos de antecedência.

Adoro Erasmus.

14 novembro 2010

A música mais bonita de sempre



Ele passou por mim e sorriu,
e a chuva parou de cair,
o meu bairro feio torna-se perfeito,
e um monte de entulho jardim.

O charco inquinado voltou a ser lago,
e o peixe ao contrário virou.
Do esgoto empestado saiu perfumando,
um rio de nenúfares em flor.

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva grossa que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar por favor!

No metro enlatado os corpos apertados,
suspiram o ver-me entrar.
Sem pressas que há tempo,
'tá gasto o momento,
e tudo mais pode esperar.

O puto do cão com seu acordeão,
põe toda a gente a dançar,
e baila o ladrão,
com o polícia p'la mão,
esvoaçam confetis no ar!

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva grossa que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar por favor!

Há portas abertas e ruas cobertas,
e enfeites de festas sem fim,
e por todo o lado é ouvido e dançado,
o fado é cantado a rir.

E aqueles que vejo que abraço que beijo,
falam já meio a sonhar,
se o mundo deu nisto e bastou um sorriso,
o que será se ele me falar?

12 novembro 2010

Buenos dias Matosinhos!

Esta criatura é a razão pela qual eu pura e simplesmente não consigo dizer 'Bom dia' aos espanhóis na sua língua materna. Não sei, vou para dizer e avario, parto-me a rir para dentro, sai sempre antes um "Hmmpff... Hmm... Bongiorno!"

Porquê? Pois... Por isto.



Download:
FLVMP43GP

11 novembro 2010

E pluribus unum

Acabei de fazer uma pesquisa de imagens no Google com as palavras-chave 'símbolo de Lisboa'.

Apareceram-me mais imagens do símbolo do Benfica do que do símbolo de Lisboa.

Nada a acrescentar.
Acabei de fazer uma chamada de um telefone português que está em Itália para um telefone espanhol que se encontra na Polónia.

Uffff!, os senhores das telecomunicações devem estar um bocado tontos com tanta volta.

10 novembro 2010

Pequeno esclarecimento à navegação

Tenho recebido alguns e-mails/comentários em que os remetentes se revelam preocupados com o meu bem-estar psicológico em terras de Berlusconi. Que é como quem diz: há várias pessoas que concluíram, através do que escrevo aqui, que estou mais mal do que bem. Pois passo a explicar:

Eu estou ÓPTIMA. Não, não estou a fazer-me de forte mas secretamente a chorar por dentro. Estou mesmo bem. Como podia não estar? Senão vejamos:

. Estou desde o primeiro dia (vá, desde o segundo) integrada num grupo de Erasmus completamente louco de tão diverso, mas sem o qual eu já não podia passar e que é a minha família aqui;

. Vivo no que é talvez o equivalente (em termos de população e de comércio) à Almirante Reis em Lisboa, mas a 20 minutos de tram do centro. Claro que isso tem as suas desvantagens (do género ter demasiadas desculpas para não ir às aulas de manhã) mas pelo menos pago menos renda do que em qualquer outra casa que tenha visto, e vivo com três espanhóis que não podiam ser mais fofinhos - o que se reflecte no ambiente cá de casa, que já agora também não podia ser melhor;

. Estou a viver sozinha e a tratar das minhas coisas pela primeira vez na minha vida (pelos menos em full-time). Cozinho o que quero e quando quero, durmo quando e onde quero, faço o que me apetece sem ter de dar satisfações a ninguém a não ser a minha consciência. (Sim, mãe, a minha consciência manda-me fazer pelo menos algumas cadeiras, não te preocupes!) ;

. Estou mais magra sem fazer qualquer tipo de esforço; pareço aquelas mulheres que passam três anos a tentar engravidar, e que quando finalmente param de tentar de repente dão por elas a ter de comprar roupinhas de bebé. (Desconfio que os 5 andares sem elevador ajudaram neste campo.)


Claro que há momentos maus. Claro que há dias em que não quero sair da cama a não ser para apanhar um avião para Lisboa, ver o Tejo, beber uma Sagres e deitar-me no colo das minhas pessoas. Mas toda a gente tem dias assim, faz parte de ser Erasmus e chama-se saudades. (E é saudável e tudo, segundo os manuais de Psicologia que eu devia estar a estudar em vez de estar aqui a escrever.)

Mas o melhor de tudo é que esses momentos passam num instante... Porque aqui também tenho pessoas que começam a ser minhas. Porque esta é a cidade onde nasceu o chocolate. Porque todos os dias descubro algo novo. Porque o centro histórico me faz sorrir. Porque há sempre uma festa, um jantar ou um convívio onde ir, um filme para ver (seguramente dobrado numa qualquer língua esquisita que não o português), uma troca de ideias para fazer, uma lição de português para dar, uma lição de italiano para receber, histórias para contar ou viagens para combinar.

Porque há sempre, sempre alguma coisa que fazer aqui. Nem que seja não fazer nada... Só porque se pode.

Só porque se é ERASMUS.

"Gioco di Squadra", é como se chama a obra

Acho que há um limite para o número de palavras italianas que uma pessoa não-italiana consegue ler por dia.

E acho que hoje atingi esse limite.

Alguém me pode explicar porque raio é que a maionese aqui parece pasta de dentes?

08 novembro 2010

Caras 750g de prazer (adquiridas hoje pela primeira vez na vida):

Comprometo-me aqui, diante de toda a blogosfera e das 4 pessoas que (ainda) lêem este blog, a não vos acabar antes de voltar para Lisboa em Dezembro.

Mas entretanto, nas frias e chuvosas noites/tardes/manhãs de inverno turinense, acho que ainda vamos ser muito felizes juntas.

La Scala

Pensar que nesta sala estrearam algumas das obras mais importantes da história da música deixa-me sem palavras.


E pensar que ontem estive lá dentro deixa-me sem ar.

05 novembro 2010

Pronto, nunca mais digo mal dos espanhóis...

...que eles, sem eu ter de pedir nada, trazem-me à cama copos de leite quente com mel às 5h30 da manhã, quando eu não consigo parar de tossir.

03 novembro 2010

Nem bom vento... Como é que era?

Perguntei ao meu mais recente coleguinha de casa se gostava de futebol, e respondeu-me o seguinte: “Gosto. (…) Mas não vi a final do mundial, tinha coisas para fazer. Nem fui festejar para a rua.” 

Perguntam vocês: que raio de espécime é este, que não vê a final de um Campeonato Mundial de uma modalidade de que afirma gostar, quando ainda por cima é o título da sua selecção que está em jogo?

E eu vos respondo: o mesmo espécime que afirma não ter dado a Batalha de Aljubarrota nas aulas de História. E que faz ainda questão de deixar claro que não se ouve falar de Portugal no seu país. Que Portugal para os espanhóis pura e simplesmente não existe. Que em Espanha não se sabe quem é o Presidente da República Portuguesa, nem tão-pouco o que é o Fado.

Que só se fala de Portugal quando há incêndios perto da fronteira, e quando há uma nova aparição do EMPLASTRO.

Hmpf. Espanhóis de um *?&%$#@.

02 novembro 2010

Eleições

Uma pessoa está no estrangeiro, quer participar nas próximas eleições para ver se ajuda (nem que seja um bocadinho) a que esse país saia da miséria, e a burocracia é tanta que quase se perde a vontade.

30 outubro 2010

La Mole Antonelliana

Vejo-a todos os dias, mas de cada vez que a vejo o meu dia melhora um bocadinho.



Ainda por cima alberga o Museu Nacional do Cinema Italiano. Estou ansiosa que alguém me venha visitar, para eu ter (mais) uma desculpa para lá entrar.

O problema é que dizem que quem sobe lá acima antes de estar licenciado nunca o chegará a ser... A ver vamos.

28 outubro 2010

I love you, don't ever leave me!

Voilà!, depois de muitas horas (vá, hora e meia) de procura... finalmente encontrei a minha companheira ideal para os meus 14 chás diários. E é tão eu que até irrita.



Se eu fosse chique dizia que a amo de paixão. Mas como não sou, digo só que gosto muito dela.

27 outubro 2010

Un mese

Faz hoje um mês inteirinho que saí desse paraíso à beira mar plantado, para me instalar neste paraíso-mas-não-tanto à beira dos Alpes plantado.

E, como sou muito dada a listas, antes de sair de Lisboa fiz uma com as coisas de que achava que ia ter saudades. Rezava assim:

- das pessoas (é mais fácil do que discriminar, poupa-se no espaço e nas susceptibilidades feridas);
- do Estádio da Luz em dia de jogo;
- do nº 258 da Av. 5 de Outubro, em Lisboa;
- do nº 500 da Rua da Alegria, no Porto;
- do Canito;
- do Arroz Doce (pronto, do Bairro Alto em geral);
- dos almoços em casa dos meus tios aos domingos;
- da calma da Praia Grande (e dos pequenos almoços da Praia Grande);
- de homens com sotaque do Norte ou da Madeira;
- de ter todos aqueles programas merdosos gravados no Zon, para poder ver enquanto tomo o pequeno almoço. 


Agora, um mês depois e muitas emoções vividas, há coisas que se mantêm na lista. Sim, confirmo que realmente tenho saudades:

- das pessoas, claro. (De todas e de cada uma delas.);
- do Estádio da Luz em dia de jogo (cada vez mais, que com esta ligação à internet maravilhosa aqui não consigo mesmo ver os jogos);
- do Canito (que devia contar como pessoa);
- dos almoços em casa dos titios, claro;
- da Praia Grande (e dos seus pequenos almoços).

Quanto ao que desapareceu entretanto: mais do que dos sítios, tenho saudades das pessoas com quem estava nos sítios. Não tenho saudades do Bairro Alto propriamente dito (até porque aqui temos os 'botellons', o que equilibra um pouco a coisa) e não tenho saudades de homens com sotaque do Norte (até porque todos os portugueses que conheci aqui são efectivamente do Norte. Nem um lisboeta, nem um alentejano, nicles). 

Do que tenho efectivamente saudades, e com estas não estava eu a contar, é de:

- conduzir!;
- ir à praia (no Inverno ou no Verão, não quero saber);
- comer sushi;
- ir ao cinema (e ver filmes na sua língua ORIGINAL, obrigado);
- comer queijos frescos da Matinal ao pequeno almoço (aqui ainda não lhes encontrei um substituto à altura);
- ver 'Friends' a torto e a direito;
- comer carne pelo menos uma vez por semana;
- ler imprensa em português;
- lanchar Um Pastel de Nata e um Ucal.