31 dezembro 2010

Uma boa Passagem de ano para todos!



(para quem não conhece, a imagem é retirado do vídeo do ano. Oiçam a letra, cantem-na aos berros e não se escandalizem: estes senhores, os Lonely Island, são peritos em fazer este tipo de músicas a gozar, e são tão famosos nos States que até convidam personalidades famosas para participar nos seus vídeos - neste caso o Akon, a Jessica Alba e a Blake Lively. Brincalhões, piratitas, maltrapilhas.)

29 dezembro 2010

Eu ia escrever algo assim, mas depois veio o MEC e adiantou-se

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”

Miguel Esteves Cardoso

26 dezembro 2010

Vai Gervásio, são os teus anos!

Para mim a segunda quinzena de Dezembro é como uma enorme festa cigana. A coisa começa lá para dia 15, com o final das aulas e o início das festas de Natal de tudo quanto é instituição em que estou minimamente envolvida. Jantar com os amigos da família, jantar do pessoal da orquestra, jantar do IGL, jantar do fim do mundo – de repente toda a gente quer jantar com toda a gente. Comemora-se o final das aulas com uma festa, o início das férias com outra festa – toda a gente tem de começar a estudar, toda a gente o sabe mas toda a gente o escolhe ignorar entre uma cerveja e outra. 

Dia 24 começam as festividades familiares – e aí a coisa complica-se. Jantares que começam às 17h, almoços que duram até às 23h, primos que uma pessoa já nem se lembrava que tinha, comer entradas como se não houvesse amanhã e depois lamentar já não ter fome para a “comida a sério”, substituir o sangue nas veias por chocolate líquido...

E quando já ninguém aguenta tanta reunião, tanta comida, tanta festa e tanto vinho, eis que chega dia 26 e eu sou obrigada a dizer às pobres almas que não foram sugadas para festas familiares na terrinha: “Lamento, a sério que lamento, meus amigos… mas é o meu dia de anos, portanto vamos ter que festejar. Outra vez.” 

Falar do meu 21º ano de vida é quase o mesmo que falar de 2010, mais 6 dias menos 6 dias. E, ao contrário de 2009, que foi o ano das coisas familiares e calmamente felizes, 2010 foi o ano das grandes decisões e mudanças. Foi o ano mais adulto e no entanto mais descontroladamente louco da minha ainda curta vida. Foi o ano que me fez perceber porque é que toda a gente usa a marca dos 20 como referência (naquelas frases do género: “O quê, eu fazer isso? Mas tu achas que eu ainda tenho 20 anos ou quê?!” ou “Aaaahh, se eu ainda tivesse 20 anos…” ou talvez “Tens 20 anos? São os melhores anos da tua vida, aproveita-os!”). Verdade seja dita, ouvir esta última durante tanto tempo despertou em mim um medo parvo e irracional, com o qual luto quase diariamente, de não estar a aproveitar a vida ao máximo, de não conseguir sugar cada bocadinho espectacular que o mundo tem para me oferecer. Morro de medo de chegar ao fim da linha e perceber que a vida me passou ao lado, que houve coisas que devia ter feito e que não fiz. E talvez por isso sigo sempre aquela velha máxima que diz que é preferível uma pessoa arrepender-se das coisas que fez do que daquelas que não fez – e até agora não me dei mal.

Este meu 21º ano de vida foi o ano ideal para testar essa teoria; e assim como assim a coisa resultou no seguinte:

- mudei a minha residência oficial de ‘Lisboa, Portugal’ para ‘Turim, Itália’;
- deixei de ser aluna do Instituto Gregoriano de Lisboa, pela primeira vez em 11 anos;
- fiz grandes amigos (e percebi que nem só maus ventos e maus casamentos vêm de Espanha);
- bati seguramente algum tipo de record em tempo seguido a chorar compulsivamente;
- apaixonei-me por pessoas altamente improváveis;
- perdi amigos que pensava que iam ser para a vida (e percebi que perder um amigo é um processo 30x mais doloroso do que perder um namorado);
- tomei algumas das decisões mais corajosas da minha vida;
- tomei algumas decisões muito, muito estúpidas;
- ri literalmente até às lágrimas, várias vezes;
- percebi da pior forma o que é uma ressaca a sério;
- deixei que me partissem o coração;
- gastei o dinheiro que tinha -e o que não tinha também- num bilhete de avião para a Cidade do México, para rever um grande amigo (que mal posso esperar por usar);
- revi os (meus) grandes clássicos do cinema;
- percebi que as grandes amizades não só sobrevivem como até se fortalecem com as maiores distâncias;
- em menos de 2 dias fui à Queima das Fitas de Coimbra, tive uma das noites da noite da minha vida enquanto apanhava a molha da minha vida, voltei para Lisboa menos de 24 horas depois de lá ter saído e vi o Benfica ser campeão – tudo isto sem dormir e na melhor companhia possível;
- fui acampar pela primeira vez;
- resolvi finalmente fazer a tatuagem que me andava a perseguir há anos;
- vi mais jogos de futebol (ao vivo e na televisão) do que em todos os outros anos juntos;
- passei mais tempo em discotecas do que em todos os outros anos juntos;
- comi maior quantidade de Nutella do que em todos os outros anos juntos;
- aprendi a falar italiano;
- aprendi a falar espanhol (com um sotaque português espectacular);
- fiz uma viagem por toda a Holanda;
- voltei a Barcelona e a Milão (e entrei no La Scala!);
- dei aulas de violoncelo e fui feliz a fazê-lo;
- fiz em concerto algumas das obras mais bonitas (e mais difíceis) da história da música;
- provei receitas culinárias que nunca tinha experimentado (incluindo língua de vaca, que descobri que afinal sabe a mortadela);
- percebi que a frase “Pizza is like sex: even when it’s bad, it’s good” afinal não corresponde à realidade;
- fui forçada a trocar de relógio (o que para mim é um processo extremamente doloroso) e fiquei contente com o resultado;
- engordei 8 kgs, e descobri que nunca me tinha sentido tão bem comigo própria;
- visitei Aveiro, Coimbra e outras cidades portuguesas onde nunca tinha estado;
- cumpri 4 itens da minha lista de coisa a fazer antes de morrer;
- acrescentei mais 6 itens a essa mesma lista;
- experimentei um vestido de noiva só por brincadeira e percebi rapidamente que aquilo não é para mim (apesar de ter passado a minha infância a responder que queria ser noiva quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande);
- descobri que afinal adoro cheesecake;
- experimentei começar a pintar as unhas de cores escuras e acho que não me dei mal;
- disse e fiz coisas de que me orgulho especialmente porque sei que não teria sido capaz de as dizer/fazer há uns anos (e chama-se a isso crescer, não é?);
- aprendi a não me levar demasiado a sério - afinal, já tenho 21 anos... mas ainda tenho 21 anos.

Portanto, como eu estava a dizer: foi um ano do caraças. Obrigadinha a todos os que para isso contribuíram, que sem vocês não teria sido possível. (Olhem para mim, 21 aninhos e já a soar a Miss Universo.)

Agora venha o próximo, camandro!

24 dezembro 2010

Eu não sou uma pessoa muito natalícia. Quando me dizem frases do género "Ai que booom, já falta tão pouco tempo para o Natal!" costumo mesmo responder com um categórico "Odeio o Natal". Normalmente depois sou fuzilada pelo olhar do meu interlocutor, mas pronto, isto são riscos que uma pessoa tem de correr.

Claro que, como provavelmente metade da população do mundo ocidental, tendo a associar o Natal a discussões e outros family issues (adoro-os, quem não os tem?). Mas nem é por isso. É mesmo porque me irrita a parvoíce consumista que vem ao de cima nas pessoas nesta época. Eu ainda percebo que se ofereçam coisas bonitas aos familiares ou amigos mais próximos. O que não compreendo de todo é a necessidade de comprar prendas a pessoas de quem não se gosta verdadeiramente, só porque "tem de ser", porque "parece mal não dar nada". A mim o que me parece mal é a hipocrisia de não ir com a cara do vizinho do 5º esquerdo, mas ainda assim gastar 6€ numa caixa de bombons para lhe oferecer, que ele vai provavelmente oferecer à vizinha do 2º direito, que por sua vez a vai seguramente reciclar numa bela prenda para a porteira, que num gesto de enorme gratidão ma vai oferecer mais tarde como prenda de anos. Para quê? Não seria tudo muito mais fácil e honesto se nos limitássemos todos a um simples "Boa tarde!" quando nos cruzássemos no elevador?

E irrita-me que a caridade só esteja na moda nesta altura. O mundo seria um lugar melhor se as pessoas se lembrassem de ajudar os outros durante o resto do ano e não só durante estes 15 dias, que basicamente servem para nos aliviar a consciência durante os outros 350 (ou 351, em anos bissextos! Vade retro!).

Mas o que me irrita mais é receber mensagens a desejar boas festas de pessoas que literalmente não me dirigem a palavra durante o resto do ano. Pessoas que eu nem sabia que ainda tinham o meu número. Pronto, eu sei que as mensagens são à borla, e até agradeço que se lembrem de mim para fazer parte do nobre gesto de enviar a mesma mensagem impessoal às 126 pessoas da lista de contactos, mas cheira-me que se quisessem realmente que eu tivesse umas festas felizes me ligavam a combinar um café ou assim... Não sei, digo eu.

Basicamente: não engraço com o conceito de Natal, pronto. São coisas da vida. Podia ter-me dado para pior.

No entanto, e como nem tudo são desgraças, engraço muito com a parte que envolve ficar quentinha dentro de casa a ver a chuva cair, conscientemente a ignorar o facto de ter trabalho para fazer e no entanto sem alimentar quaisquer sentimentos de culpa (é Natal, ninguém leva a mal! Hmm, não era assim?). E normalmente gosto de acompanhar isso com molhar quadradinhos de chocolate preto em chá a escaldar, enquanto vejo filmes que me deixam quentinha por dentro, rodeada pelas luzes que a minha mãe insiste em espalhar pela casa (com as quais eu refilo sempre, mas que secretamente adoro). Este ano ando assim a atirar para os clássicos:





 
E já agora, se alguém estiver sem ideias para prendas de anos para mim (é já no domingo, é favor não esquecer!) este senhor foi o meu primeiro amor, e desconfio que há de ser o último. Se pudesse ser o exemplar original, coberto de poeira e ainda em loiro, ficava-vos eternamente grata. É só uma dica.

22 dezembro 2010

(correndo o risco de citar Boss AC mas ainda assim citando) Ainda bem que há dias assim!

Há dias que correm mal, do início ao fim. Dias em que acordamos mal dispostos, em que a água fica fria a meio do duche, em que perdemos o metro, em que só recebemos más notícias e em que o nosso cabelo parece ter vida própria. Nesses dias parece que atraímos tudo o que há de mal neste mundo, e que à medida que as horas vão passando o dia vai ficando cada vez mais cinzento - tal como o nosso humor. E quando finalmente acaba damos connosco a querer ir dormir apenas para chegar mais rapidamente ao capítulo seguinte e poder pôr este para trás das costas.

Estão a ver esses dias?

Pois hoje foi um daqueles dias... que é o oposto desses dias. :) Começou bem, correu melhor e acabou em beleza. Melhor - acabou com a promessa de um dia seguinte tão ou ainda mais espectacular do que este.

Gosto mesmo das minhas pessoas. De todas e de cada uma delas.

19 dezembro 2010

"Raça, Querer e Ambição"

Eu não percebo muito de futebol. Aliás, eu percebo muito pouco de futebol. Sei os mínimos, as regras gerais impostas a quem vive em Portugal e a quem teve educação física. Só sei um pouco mais do que isso porque, desde pequenina e movida pela curiosidade de assistir incrédula à transformação que se dava nas pessoas do meu agregado familiar quando a bola começava a rolar, fui fazendo perguntas ao longo dos anos, numa tentativa de compreender o que as levava a transformar-se, por 1 ou 2 horas, mais ou menos um dia por semana, em pessoas que gritavam impropérios para uma televisão que não as conseguia ouvir, e que se enervavam quando um homem mostrava cartões coloridos aos outros que corriam pelo campo verde.

Ao longo destes anos todos fui acatando sem questionar o meu lugar neste meio, interiorizando que sou a) mulher, b) mulher jovem, e c) mulher jovem rodeada de homens ansiosos que insistem em salientar que eu não percebo nada de horta. Assim habituei-me a observar, e a aprender a deslindar em que momentos seria menos inoportuno fazer uma ou outra pergunta mais ou menos idiota (mental note: nunca em situação de canto. Ou de penalty. Ou de qualquer livre considerado minimamente perigoso.)

Não percebo muito de futebol, portanto. Não estou dentro das tácticas, percebo pouco de contratações. Compreendo o conceito de fora-de-jogo (ao que parece é daqueles com que a maioria das mulheres não atina) mas não vou muito além disso. E por isso não comento. Não gosto de falar do que não sei com certeza, portanto limito-me a observar e ir fazendo comentários para dentro.

Sempre gostei de ir ao Estádio, mas nunca fui muito assídua - lá está: miúda e jovem, não era grande companhia para os grandes que queriam festejar com as claques, e independência (sobretudo financeira) também era algo que não primava ainda por estes lados. Logo, fui aos jogos para os quais me convidaram, sempre sob a alçada protectora de um familiar atento.

Não estou portanto nisto há muito tempo. Sou benfiquista desde que me lembro, claro, mas porque não tive outra hipótese - pai, irmão, tios, primos e avô (im)puseram-me essa responsabilidade no momento em que nasci. A primeira vez em que a minha mãe me deixou ir a um jogo foi aos 14 anos (porque os estádios de futebol são antros do demónio) e nem cheguei a ver a primeira Catedral por dentro. Desde sempre que festejo cada vitória do Benfica e sofro com cada derrota, é claro - mas porque me era inato, não porque realmente percebesse o significado de mais ou menos 3 pontos no campeonato.

Mas nos últimos 2 anos, um pouco por desígnio do acaso mas também muito por empurrão alheio, dei por mim no meio de um estádio de futebol, várias vezes, a gritar pelo Benfica com todo o ar que tinha nos pulmões. Não sei bem porquê; nada indicava nesse sentido na minha vida (a não ser os inevitáveis antecedentes familiares, claro). Comecei a ter interesse no assunto, a querer aprender os nomes e as posições dos jogadores, a não desligar o cérebro quando alguém sintonizava 'O Dia Seguinte' e a observar com outros olhos as tácticas de jogo (olhos-de-quem-vê, e não olhos de-quem-olha-na-direcção-da-TV-mas-está-a-pensar-na-conversa-que-teve-ontem).

E talvez por isso mesmo já me têm perguntado: "Mas porque é que vais ao estádio? Não vês o jogo muito melhor em casa, no conforto do sofá e com as repetições e os comentários, ainda por cima sem arrotar 20€?". E a essas pessoas eu gostava de conseguir explicar a sensação familiar que se tem ao trocar olhares cúmplices ou encolher de ombros conformados com as pessoas sentadas ao nosso lado (que não conhecemos) simplesmente porque ambos sabemos que o árbitro nos acabou de roubar. Gostava de conseguir explicar a sensação de ver uma Águia sobrevoar um Estádio inteiro para depois pousar no símbolo do nosso clube, ao mesmo tempo que 50.000 pessoas se levantam e explodem em aplausos. Gostava que conseguissem perceber o que é sentir um Estádio inteiro a respirar fundo num "aaaahh..." coordenado e monofónico quando a bola roça a trave pelo lado de fora. Gostava de explicar, mas não consigo. E desconfio que mesmo que algumas dessas pessoas pudessem estar lá comigo, continuariam sem perceber do que estou a falar.

Acho que é mesmo assim, a magia de ser Benfiquista. Não se questiona, não se impinge, não se usa como bandeira. Simplesmente vive-se. E sofre-se... às vezes muito. Mas compensa sempre.




Ontem fui ao Estádio pela primeira vez em 3 meses. Nota-se muito?

There and back again

Depois de chegar a Milão com 2 horas de antecedência (não fosse o diabo tecê-las, que estes italianos agora acham graça às greves de transportes surpresa) apenas para constatar que o voo estava atrasado outras tantas, dei por mim simplesmente sentada numa cadeira a olhar para os Alpes e a desejar não sair daquele aeroporto. Queria ficar assim num meio termo: nem em Turim nem em Lisboa, a meio caminho, com um olho nos cumes nevados mas com o coração já a vislumbrar o Tejo. Caraças, que ninguém me avisou que esta coisa de fazer Erasmus nos deixava o coração partido em dois.

Saiu-me a muito, muito custo o primeiro "obrigado" - tive um pequeno bloqueio de 2 segundos a olhar para a hospedeira que me serviu o café no avião. "Grazie" tem menos sílabas e soa tão melhor. Mas oito dias, dois pastéis de Belém e um-número-propositadamente-não-discriminado de Sagres depois, já me sinto quase em casa.

Lisboa está igual. Lembro-me de que quando era pequena e íamos passar um mês de férias ao Meco, quando voltávamos tudo me parecia irremediavelmente diferente. Bastava mudarem os cartazes publicitários e terminar uma ou outra obra nos arredores de casa para Lisboa me parecer um lugar completamente novo.

Estive fora 2 meses e meio. Nunca tinha estado tanto tempo fora de casa. E neste tempo não mudou Lisboa - mudou a forma como olho para ela. A perspectiva que se ganha por ter estado tanto tempo fora muda em completo coisas tão pequenas e habitualmente banais como percorrer a Av. de Roma ou ir ao cinema. Parece metafísico e lamechas, não é? Coisas de emigrantes; quem não percebe nunca vai perceber até que se ponha a andar daqui para fora.

Mais coisas de emigrantes - regra nº1 da sobrevivência Erasmus: quanto mais depressa encontrares uma palavra que faça sentido na língua em que te estás a tentar exprimir, mas que também exista nos dicionários da tua língua materna (apesar da na realidade ninguém no teu país a utilizar) mais facilmente te conseguirás fazer entender com pouco espaço cerebral ocupado com vocabulário novo, e assim mais depressa te farás entender e mais depressa serás aceite e integrado. É esta a explicação para agora só me saírem da boca expressões com esqueleto português mas alma espanhola, como "que asco", "dá igual", "são coisas", "em sério?", "que hora é?", "ir de compras", etc etc etc. (Pinches españoles que me joden el portugues, hijos de una hiena!!)

Mas aaahhh, que maravilha poder sair de casa sem casaco quando está sol (em Turim pode estar a fazer um sol espectacular, mas vão sempre estar no máximo 5ºC lá fora) e poder sair à noite e voltar de táxi para casa à hora que me apetecer, sem ter de esperar pelo autocarro nocturno que só passa à hora certa (e que durante a semana só passa a partir das 5h da manhã. Depois queixam-se que um gajo não vai às aulas). Mas a melhor parte é poder viver as pessoas, cada uma delas; ainda não inventaram um Skype que substitua este calor humano.

Ah, pequena nota final: até 21 de Janeiro faço questão de não comer pizzas, massas ou qualquer tipo de refeição que tenha como base tomate e/ou queijo mozzarella. Não me tentem, que não vale a pena. Ganhei-lhes ASCO.

05 dezembro 2010

Solitary


Adoro quando o Solitário tenta fazer pressão psicológica comigo.

“Tem a certeza que pretende desistir deste jogo? Vai contar como uma derrota nas estatísticas.”

Caramba, que nem com o nosso próprio computador estamos a salvo de julgamentos e avaliações.

04 dezembro 2010

Hey, I have a question...

Porque raio é que há rapazes que, quando sozinhos com uma rapariga ou na companhia de pouca gente, são as pessoas mais impecáveis do mundo (respeitadores, divertidos, amáveis, sinceros, uns fofinhos), mas que quando se juntam com o seu grupo de amigos rapazes do costume se transformam de repente em autênticos burgessos, pessoas sem a mínima ponta de graça?

Não se acanhem com as respostas, que esta não é de todo uma pergunta retórica. Gostava mesmo de saber, sempre se poupava muito tempo mal investido nas pessoas erradas.

02 dezembro 2010

Another one bites the dust

Sabes que estás viciado nalguma coisa quando te apercebes de que tens de recorrer a substitutos quando não a tens ao teu alcance.

No meu caso, isso pode por vezes envolver comer chocolate em pó à colherada.

01 dezembro 2010

Perfect vs. FAIL

[favor carregar no play antes de começar a ler]





Cenário: Turim, 20h da noite. Noite cerrada, rua deserta, iluminações de natal, neve a cair por todos os lados. Eu à espera do eléctrico, de guarda-chuva amarelo a proteger-me (mal) dos flocos do tamanho de bolas de pingue-pongue que iam caindo calmamente.

Nunca tinha reparado nisto, provavelmente porque nunca tinha visto cair neve fora de uma estância de ski, mas a neve cai com uma calma que a chuva não tem. Cai com a delicadeza que só as coisas verdadeiramente brancas têm. E cai com calma, devagar, em silêncio. Pede para ser observada, pede que tiremos 5 minutos das nossas vidas extremamente atarefadas para nos determos ali, ao frio, simplesmente a vê-la cair.



A música que tocava nesse momento no meu iPod era aquela lá de cima. E o eléctrico não chegou, e portanto eu fiquei ali - sozinha, debaixo do meu guarda-chuva amarelo, a ver a neve cair calmamente por cima das iluminações de natal.

E por mais que a vida às vezes seja um grande cagalhão cheio de injustiça, poluição e fome, naquele momento o mundo -pelo menos o meu mundo- foi perfeito.

E aquele foi o meu momento. O mais solitário, o mais bonito, o mais calmo, o mais meu. "Cansada, calma e feliz."

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Até que ele se aproximou. Relembro que eu estava sob o efeito de tudo o acima descrito; naquele momento estava crente na beleza do mundo e tinha fé na bondade dos homens. Ele aproximou-se e tinha neve no cabelo e o nariz vermelho do frio. Vinha de mãos nos bolsos, ombros encolhidos e tinha olhos de cachorrinho abandonado impossíveis de evitar, mesmo na escuridão daquela noite. E, quando se aproximou, perguntou-me num inglês perfeito: "Excuse me... Do you know at what time is the next 13 arriving?"

E eu, perdida no meu mundo subitamente perfeito e no seu ar incrivelmente cativador-olhem-para-mim-sou-um-americano-de-20-e-poucos-anos-e-estou-perdido-em-Turim, lá lhe respondi que o 13 era o que vinha já lá ao final da rua. E depois, embalada pela música do Legendary Tiger Man e pela pena que me invadiu o coração ao ver que a neve lhe molhava ainda mais o casaco e o cabelo de cada vez que lhe caía em cima, abri a boca num sorriso simpático... E, do nada, saiu-me um:

"You can stand under my umbrella... if you want."

E um segundo depois de proferir esta frase percebi que se tinha desvanecido o meu mundo perfeito, o meu americano em Turim, a minha neve a cair, porque todo o meu cérebro foi rapidamente invadido por imagens da Rihanna a abanar o rabo e a cantar "You can stand under my umbrella... ella... ella... ella..."

(Ou, porque uma imagem vale mais que mil palavras, o seguinte vídeo ali no 1min e 10segs)




E restou-me ignorar o seu olhar embaraçado (que seguramente também tinha a Rihanna às voltas no cérebro), abafar uma gargalhada, entrar no eléctrico que entretanto tinha chegado com os restantes comuns mortais, e seguir com a minha vida - já não tão perfeita, mas seguramente mais divertida... pelo menos por esta noite.