07 abril 2013

Alvalade é tão bom

nós as duas a conversar animadamente no café

senhor com idade para ser nosso pai aproxima-se de copo na mão: "Desculpem incomodar, mas é que estão ali a queixar-se de que vocês já estão aqui há muito tempo só com um café..."

 ela: "Ah... Mas queria ocupar a mesa, era?" (olha em volta com ar confuso para as várias mesas vazias ao nosso lado)

 ele: "Não não... Queria mesmo era pagar-vos uma bebida!"

 eu: ...

 ela: "Deixe estar, já estávamos de saída."

03 abril 2013

Deus e outras coisas

Provavelmente devido ao "ambiente" geral da passada semana, dei por mim a reflectir intensamente sobre a temática católica. Não fui criada num lar propriamente religioso, mas por diversos motivos acabei por decidir baptizar-me com 17 anos. Apesar disso, e por decisão consciente, não entro numa igreja com outro propósito além do turístico há 6 anos. Este paradoxo só prova que este é um tema que me é tão querido quanto temido - e ter finalmente tirado algum tempo da minha vida para reflectir sobre isso foi abrir a caixa de Pandora.

Mas enquanto chego e não chego a uma conclusão, recomendaram-me este vídeo. Trata-se do Ricardo Araújo Pereira a falar numa conferência na capela do Rato sobre a questão de Deus, a sua experiência pessoal enquanto ateu, e da relação da religião católica com o riso.

São três vídeos, este é só o primeiro. Mas já se sabendo que o Ricardo Araújo Pereira é um génio humorístico precisamente pela inteligência e conhecimento com que fala dos temas que aborda, vale mesmo a pena ver.

01 abril 2013

Sem querer dei de caras com este post em rascunho, nunca publicado não sei porquê. Fevereiro 2011



Quem vê o vídeo sabe mais ou menos o que pareceu. Quem assistiu ao vivo sabe a que soou na realidade. Mas só quem participou sabe o que foi. Arrepio na espinha por assistir ao vivo e a cores à prova da evolução musical de cada um daqueles a que posso hoje orgulhosamente chamar Amigos. Engolir em seco para não chorar de emoção no palco. Sentir um orgulho avassalador por todo o trabalho árduo culminar neste concerto - não só por ser n' A Escola, mas por nos ter sido dada "carta branca" para fazermos o que quiséssemos enquanto grupo instrumental. Ao fim de não sei quantos anos de trabalho, fazer um concerto a que os professores e directores da nossa escola assistem e que os faz dizer-nos que temos qualidade suficiente para ter "carta branca" e assim fazermos o que quisermos no concerto de encerramento da temporada... e saber que esse vai ser o meu último concerto enquanto aluna oficial do Instituto Gregoriano de Lisboa... e depois saber que correu como correu... É um enorme "...and they lived happily ever after".

Acho que das coisas mais positivas que Erasmus tem é que se passa a ver tudo sob outra perspectiva. Sem as correrias do dia-a-dia, sem os ensaios, sem as reuniões e praticamente sem aulas temos tempo para olhar para dentro e fazer balanços, balanços não planeados de todos os aspectos da vida. O que significou aquilo, o que mudou, o que se manteve. O que se quer a seguir. A família. Os amigos. Os amores assolapados, as paixões platónicas. O que ficou por dizer. O que se quer fazer quando se voltar.

O porquê de muitas coisas volta, e a vida parece que se endireita atrás de nós.

Sem querer agoirar, acho que se morresse agora morria feliz. Não por ter atingido tudo o que quero na vida (que eu defendo que quando se atinge tudo o que se quer na vida é sinal de que se perderam os objectivos) mas porque cheguei a uma fase em que atingi uma tranquilidade de que só se sabe que se precisa quando se atinge. Disse-me um amigo quando me viu agora em Dezembro que lhe pareço "mais mulher". Fiquei a pensar no significado da expressão (isso é outra coisa que acontece quando se cresce - pensa-se demasiado). Não era certamente pela forma como me viu vestida (quanto muito seria o contrário), tinha de ser pela minha forma de estar. Estou mais calma. Estou tranquilamente em paz, porque inconscientemente e sem o planear de repente tive tempo para me resolver a mim própria, para cortar caudas penduradas do passado.

Uma vez um senhor mais velho, sabendo que eu estudava música, perguntou-me qual era o meu compositor favorito. Apesar de achar uma pergunta perfeitamente sádica (é como perguntar a uma criança se gosta mais do pai ou da mãe) respondi automaticamente "Tchaikovsky". E ele esboçou um meio sorriso e respondeu-me, com a calma das pessoas adultas: "Quando eu era mais novo também costumava dizer que era Tchaikovsky... Agora prefiro Bach." E a tranquilidade assegurada na resposta dele deixou-me a pensar... Será que à medida que crescemos vamos ganhando uma segurança nas coisas que são realmente importantes - uma segurança que nos permite escolher passar mais tempo em casa do que a explorar o mundo, que nos faça escolher um calmo e seguro Bach em oposição a um emocional e inquieto Tchaikovsky?

Deve ser isso - tem de ser isso. As pessoas associam a inquietude às crianças e a calma aos adultos. O problema é que eu nunca achei que os "adultos" (na concepção infantil da palavra) fossem calmos - acho-os chatos. Não arriscam, não cometem erros, não se deixam levar. Eu não quero ser isso. Sempre prometi a mim mesma que ia ser uma adulta "fixe". Que nunca ia deixar de fazer o que me apetecia só porque alguém me dizia que "tem de ser", porque "parece mal". E agora que dei por mim "mais mulher" tenho medo de me deixar levar no entorpecimento dos que já são "demasiado velhos para essas coisas".

No fundo acho que há que assumir o crescimento e aproveitá-lo para tomar decisões mais acertadas no futuro. Mas isso não quer dizer que se deixe de arriscar.