26 dezembro 2010

Vai Gervásio, são os teus anos!

Para mim a segunda quinzena de Dezembro é como uma enorme festa cigana. A coisa começa lá para dia 15, com o final das aulas e o início das festas de Natal de tudo quanto é instituição em que estou minimamente envolvida. Jantar com os amigos da família, jantar do pessoal da orquestra, jantar do IGL, jantar do fim do mundo – de repente toda a gente quer jantar com toda a gente. Comemora-se o final das aulas com uma festa, o início das férias com outra festa – toda a gente tem de começar a estudar, toda a gente o sabe mas toda a gente o escolhe ignorar entre uma cerveja e outra. 

Dia 24 começam as festividades familiares – e aí a coisa complica-se. Jantares que começam às 17h, almoços que duram até às 23h, primos que uma pessoa já nem se lembrava que tinha, comer entradas como se não houvesse amanhã e depois lamentar já não ter fome para a “comida a sério”, substituir o sangue nas veias por chocolate líquido...

E quando já ninguém aguenta tanta reunião, tanta comida, tanta festa e tanto vinho, eis que chega dia 26 e eu sou obrigada a dizer às pobres almas que não foram sugadas para festas familiares na terrinha: “Lamento, a sério que lamento, meus amigos… mas é o meu dia de anos, portanto vamos ter que festejar. Outra vez.” 

Falar do meu 21º ano de vida é quase o mesmo que falar de 2010, mais 6 dias menos 6 dias. E, ao contrário de 2009, que foi o ano das coisas familiares e calmamente felizes, 2010 foi o ano das grandes decisões e mudanças. Foi o ano mais adulto e no entanto mais descontroladamente louco da minha ainda curta vida. Foi o ano que me fez perceber porque é que toda a gente usa a marca dos 20 como referência (naquelas frases do género: “O quê, eu fazer isso? Mas tu achas que eu ainda tenho 20 anos ou quê?!” ou “Aaaahh, se eu ainda tivesse 20 anos…” ou talvez “Tens 20 anos? São os melhores anos da tua vida, aproveita-os!”). Verdade seja dita, ouvir esta última durante tanto tempo despertou em mim um medo parvo e irracional, com o qual luto quase diariamente, de não estar a aproveitar a vida ao máximo, de não conseguir sugar cada bocadinho espectacular que o mundo tem para me oferecer. Morro de medo de chegar ao fim da linha e perceber que a vida me passou ao lado, que houve coisas que devia ter feito e que não fiz. E talvez por isso sigo sempre aquela velha máxima que diz que é preferível uma pessoa arrepender-se das coisas que fez do que daquelas que não fez – e até agora não me dei mal.

Este meu 21º ano de vida foi o ano ideal para testar essa teoria; e assim como assim a coisa resultou no seguinte:

- mudei a minha residência oficial de ‘Lisboa, Portugal’ para ‘Turim, Itália’;
- deixei de ser aluna do Instituto Gregoriano de Lisboa, pela primeira vez em 11 anos;
- fiz grandes amigos (e percebi que nem só maus ventos e maus casamentos vêm de Espanha);
- bati seguramente algum tipo de record em tempo seguido a chorar compulsivamente;
- apaixonei-me por pessoas altamente improváveis;
- perdi amigos que pensava que iam ser para a vida (e percebi que perder um amigo é um processo 30x mais doloroso do que perder um namorado);
- tomei algumas das decisões mais corajosas da minha vida;
- tomei algumas decisões muito, muito estúpidas;
- ri literalmente até às lágrimas, várias vezes;
- percebi da pior forma o que é uma ressaca a sério;
- deixei que me partissem o coração;
- gastei o dinheiro que tinha -e o que não tinha também- num bilhete de avião para a Cidade do México, para rever um grande amigo (que mal posso esperar por usar);
- revi os (meus) grandes clássicos do cinema;
- percebi que as grandes amizades não só sobrevivem como até se fortalecem com as maiores distâncias;
- em menos de 2 dias fui à Queima das Fitas de Coimbra, tive uma das noites da noite da minha vida enquanto apanhava a molha da minha vida, voltei para Lisboa menos de 24 horas depois de lá ter saído e vi o Benfica ser campeão – tudo isto sem dormir e na melhor companhia possível;
- fui acampar pela primeira vez;
- resolvi finalmente fazer a tatuagem que me andava a perseguir há anos;
- vi mais jogos de futebol (ao vivo e na televisão) do que em todos os outros anos juntos;
- passei mais tempo em discotecas do que em todos os outros anos juntos;
- comi maior quantidade de Nutella do que em todos os outros anos juntos;
- aprendi a falar italiano;
- aprendi a falar espanhol (com um sotaque português espectacular);
- fiz uma viagem por toda a Holanda;
- voltei a Barcelona e a Milão (e entrei no La Scala!);
- dei aulas de violoncelo e fui feliz a fazê-lo;
- fiz em concerto algumas das obras mais bonitas (e mais difíceis) da história da música;
- provei receitas culinárias que nunca tinha experimentado (incluindo língua de vaca, que descobri que afinal sabe a mortadela);
- percebi que a frase “Pizza is like sex: even when it’s bad, it’s good” afinal não corresponde à realidade;
- fui forçada a trocar de relógio (o que para mim é um processo extremamente doloroso) e fiquei contente com o resultado;
- engordei 8 kgs, e descobri que nunca me tinha sentido tão bem comigo própria;
- visitei Aveiro, Coimbra e outras cidades portuguesas onde nunca tinha estado;
- cumpri 4 itens da minha lista de coisa a fazer antes de morrer;
- acrescentei mais 6 itens a essa mesma lista;
- experimentei um vestido de noiva só por brincadeira e percebi rapidamente que aquilo não é para mim (apesar de ter passado a minha infância a responder que queria ser noiva quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande);
- descobri que afinal adoro cheesecake;
- experimentei começar a pintar as unhas de cores escuras e acho que não me dei mal;
- disse e fiz coisas de que me orgulho especialmente porque sei que não teria sido capaz de as dizer/fazer há uns anos (e chama-se a isso crescer, não é?);
- aprendi a não me levar demasiado a sério - afinal, já tenho 21 anos... mas ainda tenho 21 anos.

Portanto, como eu estava a dizer: foi um ano do caraças. Obrigadinha a todos os que para isso contribuíram, que sem vocês não teria sido possível. (Olhem para mim, 21 aninhos e já a soar a Miss Universo.)

Agora venha o próximo, camandro!

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