19 dezembro 2010

There and back again

Depois de chegar a Milão com 2 horas de antecedência (não fosse o diabo tecê-las, que estes italianos agora acham graça às greves de transportes surpresa) apenas para constatar que o voo estava atrasado outras tantas, dei por mim simplesmente sentada numa cadeira a olhar para os Alpes e a desejar não sair daquele aeroporto. Queria ficar assim num meio termo: nem em Turim nem em Lisboa, a meio caminho, com um olho nos cumes nevados mas com o coração já a vislumbrar o Tejo. Caraças, que ninguém me avisou que esta coisa de fazer Erasmus nos deixava o coração partido em dois.

Saiu-me a muito, muito custo o primeiro "obrigado" - tive um pequeno bloqueio de 2 segundos a olhar para a hospedeira que me serviu o café no avião. "Grazie" tem menos sílabas e soa tão melhor. Mas oito dias, dois pastéis de Belém e um-número-propositadamente-não-discriminado de Sagres depois, já me sinto quase em casa.

Lisboa está igual. Lembro-me de que quando era pequena e íamos passar um mês de férias ao Meco, quando voltávamos tudo me parecia irremediavelmente diferente. Bastava mudarem os cartazes publicitários e terminar uma ou outra obra nos arredores de casa para Lisboa me parecer um lugar completamente novo.

Estive fora 2 meses e meio. Nunca tinha estado tanto tempo fora de casa. E neste tempo não mudou Lisboa - mudou a forma como olho para ela. A perspectiva que se ganha por ter estado tanto tempo fora muda em completo coisas tão pequenas e habitualmente banais como percorrer a Av. de Roma ou ir ao cinema. Parece metafísico e lamechas, não é? Coisas de emigrantes; quem não percebe nunca vai perceber até que se ponha a andar daqui para fora.

Mais coisas de emigrantes - regra nº1 da sobrevivência Erasmus: quanto mais depressa encontrares uma palavra que faça sentido na língua em que te estás a tentar exprimir, mas que também exista nos dicionários da tua língua materna (apesar da na realidade ninguém no teu país a utilizar) mais facilmente te conseguirás fazer entender com pouco espaço cerebral ocupado com vocabulário novo, e assim mais depressa te farás entender e mais depressa serás aceite e integrado. É esta a explicação para agora só me saírem da boca expressões com esqueleto português mas alma espanhola, como "que asco", "dá igual", "são coisas", "em sério?", "que hora é?", "ir de compras", etc etc etc. (Pinches españoles que me joden el portugues, hijos de una hiena!!)

Mas aaahhh, que maravilha poder sair de casa sem casaco quando está sol (em Turim pode estar a fazer um sol espectacular, mas vão sempre estar no máximo 5ºC lá fora) e poder sair à noite e voltar de táxi para casa à hora que me apetecer, sem ter de esperar pelo autocarro nocturno que só passa à hora certa (e que durante a semana só passa a partir das 5h da manhã. Depois queixam-se que um gajo não vai às aulas). Mas a melhor parte é poder viver as pessoas, cada uma delas; ainda não inventaram um Skype que substitua este calor humano.

Ah, pequena nota final: até 21 de Janeiro faço questão de não comer pizzas, massas ou qualquer tipo de refeição que tenha como base tomate e/ou queijo mozzarella. Não me tentem, que não vale a pena. Ganhei-lhes ASCO.

1 comentário:

  1. xD calor humano, yey!
    vê lá não queiras ficar por lá ad eternum! destroçavas os nossos corações.
    Entretanto, vamos ver se não te damos pizza nem massas para comer :P

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