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Cenário: Turim, 20h da noite. Noite cerrada, rua deserta, iluminações de natal, neve a cair por todos os lados. Eu à espera do eléctrico, de guarda-chuva amarelo a proteger-me (mal) dos flocos do tamanho de bolas de pingue-pongue que iam caindo calmamente.
Nunca tinha reparado nisto, provavelmente porque nunca tinha visto cair neve fora de uma estância de ski, mas a neve cai com uma calma que a chuva não tem. Cai com a delicadeza que só as coisas verdadeiramente brancas têm. E cai com calma, devagar, em silêncio. Pede para ser observada, pede que tiremos 5 minutos das nossas vidas extremamente atarefadas para nos determos ali, ao frio, simplesmente a vê-la cair.
A música que tocava nesse momento no meu iPod era aquela lá de cima. E o eléctrico não chegou, e portanto eu fiquei ali - sozinha, debaixo do meu guarda-chuva amarelo, a ver a neve cair calmamente por cima das iluminações de natal.
E por mais que a vida às vezes seja um grande cagalhão cheio de injustiça, poluição e fome, naquele momento o mundo -pelo menos o meu mundo- foi perfeito.
E aquele foi o meu momento. O mais solitário, o mais bonito, o mais calmo, o mais meu. "Cansada, calma e feliz."
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Até que ele se aproximou. Relembro que eu estava sob o efeito de tudo o acima descrito; naquele momento estava crente na beleza do mundo e tinha fé na bondade dos homens. Ele aproximou-se e tinha neve no cabelo e o nariz vermelho do frio. Vinha de mãos nos bolsos, ombros encolhidos e tinha olhos de cachorrinho abandonado impossíveis de evitar, mesmo na escuridão daquela noite. E, quando se aproximou, perguntou-me num inglês perfeito: "Excuse me... Do you know at what time is the next 13 arriving?"
E eu, perdida no meu mundo subitamente perfeito e no seu ar incrivelmente cativador-olhem-para-mim-sou-um-americano-de-20-e-poucos-anos-e-estou-perdido-em-Turim, lá lhe respondi que o 13 era o que vinha já lá ao final da rua. E depois, embalada pela música do Legendary Tiger Man e pela pena que me invadiu o coração ao ver que a neve lhe molhava ainda mais o casaco e o cabelo de cada vez que lhe caía em cima, abri a boca num sorriso simpático... E, do nada, saiu-me um:
"You can stand under my umbrella... if you want."
E um segundo depois de proferir esta frase percebi que se tinha desvanecido o meu mundo perfeito, o meu americano em Turim, a minha neve a cair, porque todo o meu cérebro foi rapidamente invadido por imagens da Rihanna a abanar o rabo e a cantar "You can stand under my umbrella... ella... ella... ella..."
(Ou, porque uma imagem vale mais que mil palavras, o seguinte vídeo ali no 1min e 10segs)
E restou-me ignorar o seu olhar embaraçado (que seguramente também tinha a Rihanna às voltas no cérebro), abafar uma gargalhada, entrar no eléctrico que entretanto tinha chegado com os restantes comuns mortais, e seguir com a minha vida - já não tão perfeita, mas seguramente mais divertida... pelo menos por esta noite.
Genial! Só faltava ele ter escorregado no gelo, ou sido atropelado pelo eléctrico, para acabar em beleza.
ResponderEliminarÉs TÃO sexo e a cidade!
ResponderEliminardevias ter perguntado, joeyamente:
ResponderEliminarhow you doinnn' ?
BRUTAL! Não tava nada a espera desses desfecho. Para alem que concordo com os 3 comentários acima
ResponderEliminarEle era o Jay-Z?
ResponderEliminarahahah!! Bem! Não estava à espera deste finale! Mto bom! Ainda que está a ser bom e que já houve, pelo menos um, momento perfeito!!
ResponderEliminarBeijinhos e boa viagem p'ra "casa"! :)