01 dezembro 2010

Perfect vs. FAIL

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Cenário: Turim, 20h da noite. Noite cerrada, rua deserta, iluminações de natal, neve a cair por todos os lados. Eu à espera do eléctrico, de guarda-chuva amarelo a proteger-me (mal) dos flocos do tamanho de bolas de pingue-pongue que iam caindo calmamente.

Nunca tinha reparado nisto, provavelmente porque nunca tinha visto cair neve fora de uma estância de ski, mas a neve cai com uma calma que a chuva não tem. Cai com a delicadeza que só as coisas verdadeiramente brancas têm. E cai com calma, devagar, em silêncio. Pede para ser observada, pede que tiremos 5 minutos das nossas vidas extremamente atarefadas para nos determos ali, ao frio, simplesmente a vê-la cair.



A música que tocava nesse momento no meu iPod era aquela lá de cima. E o eléctrico não chegou, e portanto eu fiquei ali - sozinha, debaixo do meu guarda-chuva amarelo, a ver a neve cair calmamente por cima das iluminações de natal.

E por mais que a vida às vezes seja um grande cagalhão cheio de injustiça, poluição e fome, naquele momento o mundo -pelo menos o meu mundo- foi perfeito.

E aquele foi o meu momento. O mais solitário, o mais bonito, o mais calmo, o mais meu. "Cansada, calma e feliz."

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Até que ele se aproximou. Relembro que eu estava sob o efeito de tudo o acima descrito; naquele momento estava crente na beleza do mundo e tinha fé na bondade dos homens. Ele aproximou-se e tinha neve no cabelo e o nariz vermelho do frio. Vinha de mãos nos bolsos, ombros encolhidos e tinha olhos de cachorrinho abandonado impossíveis de evitar, mesmo na escuridão daquela noite. E, quando se aproximou, perguntou-me num inglês perfeito: "Excuse me... Do you know at what time is the next 13 arriving?"

E eu, perdida no meu mundo subitamente perfeito e no seu ar incrivelmente cativador-olhem-para-mim-sou-um-americano-de-20-e-poucos-anos-e-estou-perdido-em-Turim, lá lhe respondi que o 13 era o que vinha já lá ao final da rua. E depois, embalada pela música do Legendary Tiger Man e pela pena que me invadiu o coração ao ver que a neve lhe molhava ainda mais o casaco e o cabelo de cada vez que lhe caía em cima, abri a boca num sorriso simpático... E, do nada, saiu-me um:

"You can stand under my umbrella... if you want."

E um segundo depois de proferir esta frase percebi que se tinha desvanecido o meu mundo perfeito, o meu americano em Turim, a minha neve a cair, porque todo o meu cérebro foi rapidamente invadido por imagens da Rihanna a abanar o rabo e a cantar "You can stand under my umbrella... ella... ella... ella..."

(Ou, porque uma imagem vale mais que mil palavras, o seguinte vídeo ali no 1min e 10segs)




E restou-me ignorar o seu olhar embaraçado (que seguramente também tinha a Rihanna às voltas no cérebro), abafar uma gargalhada, entrar no eléctrico que entretanto tinha chegado com os restantes comuns mortais, e seguir com a minha vida - já não tão perfeita, mas seguramente mais divertida... pelo menos por esta noite.

6 comentários:

  1. Genial! Só faltava ele ter escorregado no gelo, ou sido atropelado pelo eléctrico, para acabar em beleza.

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  2. devias ter perguntado, joeyamente:

    how you doinnn' ?

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  3. BRUTAL! Não tava nada a espera desses desfecho. Para alem que concordo com os 3 comentários acima

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  4. ahahah!! Bem! Não estava à espera deste finale! Mto bom! Ainda que está a ser bom e que já houve, pelo menos um, momento perfeito!!
    Beijinhos e boa viagem p'ra "casa"! :)

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