Ou mesmo para qualquer pessoa que tenha estado em Ciências no Secundário, na realidade. No entanto, como eu sou uma pobre criatura de Humanidades, a minha vida atingiu um novo nível hoje. Porque o segundo semestre do 1º ano do meu mestrado acabou de se tornar mesmo, mesmo interessante.
Tivemos hoje a primeira aula de Técnicas Laboratoriais em Psicobiologia, e apesar de algumas pessoas serem da opinião de que "as primeiras aulas de laboratório são sempre uma seca", eu nunca tinha estado mais do que 5 minutos num laboratório, portanto estava em modo criancinha-na-véspera-de-Natal.
Explicaram-me a parte teórica, passaram-me uma pipeta para as mãos, deixaram-me ligeiramente nervosa com as regras de segurança, e deixaram-me brincar um bocado. Mas mais do que isso deixaram-me consciente da responsabilidade que vamos ter ao longo das próximas semanas, dado que vamos estudar a actividade cerebral em peixes que NÓS vamos manipular.
Mas a primeira aula é sempre teórica, não é? Até ao momento em que dou por mim em frente a um aquário com um único peixe, a ver 2 gramas de anestésico serem despejadas lá para dentro. E depois, não sei como, dou por mim em frente a um microscópio, luvas calçadas, bisturi numa mão, pinça na outra, peixinho (já morto) no tabuleiro por baixo do microscópio, com a prof ao meu lado a dizer "vá, agora fazes uma incisão aqui, cortas o músculo com um golpe profundo e removes os pedaços de crânio, com cuidado para não danificar o cérebro". Ou qualquer coisa desse género, porque a única coisa que conseguia ouvir era o meu coração a bater-me nos ouvidos. Está bem que o peixinho já está morto, mas basta um movimento em falso e esta investigação vai toda com o camandro, para não falar da péssima impressão com que me ia carimbar imediatamente.
Ignorando a rápida imagem mental do meu pai a arranjar o peixe para o jantar, lá uso o bisturi para (tentar) expor o cérebro. Prof: "Isto tem de ser rápido, quanto mais tempo demorarmos mais rapidamente o cérebro se começa a desfazer". Não, na boa, sem pressão. Do nada deixo de sentir a mão esquerda, e de repente oiço um estrondo metálico. Olho para baixo e vejo a pinça no tabuleiro. A prof rosna: "Temos de ter muito cuidado com o material, basta isto cair verticalmente e acabou-se." Bacano. Enquanto começo a pensar se não teria sido melhor fazer um mestrado em corte-e-costura, lá pego na pinça outra vez, encosto os olhos à lupa do microscópio e tento coordenar os movimentos, sem olhar directamente para as mãos ou para o tabuleiro. O que parece meio metro de distância à lupa é para aí meio milímetro na realidade, mas dado que temos de ver tudo através do microscópio não podemos olhar directamente para o que estamos a fazer, o que torna a coordenação motora -matéria na qual já normalmente sou grande profissional, diga-se de passagem- um desafio interessante.
Prof: "Pronto, o cérebro assim já está exposto, agora usa a pinça para puxar o telencéfalo, e corta-o na base com o bisturi." Olho através da lupa. Gosma cinzenta all over. É suposto eu saber distinguir qual destas pseudo-bolinhas é que é o telencéfalo? Pensamento: "Isto com as corzinhas e as legendas dos slides era bem mais fácil...". Respiro fundo. Tento agarrar a pseudo-bolinha que teoricamente correspondia ao telencéfalo com a pinça. A bolinha escorrega. Tento agarrá-la outra vez. A p*** escorrega outra vez. Juro que consigo ouvir a sua vozinha a rir-se para mim enquanto mostra os dentes todos e diz "problem?". Agarro-a com todas as forças que o indicador e o polegar oponível me permitem, com a certeza absoluta que aquela merda vai explodir e espirrar matéria cinzenta por todo o lado. Ela aguenta. Uso o bisturi para a separar do resto do cérebro. Ela aguenta-se. YEY! Abro um dos tubos previamente identificados para o efeito, atiro a bolinha para dentro da solução, fecho o tubo, enfio-o numa taça cheia de gelo e levanto-me da cadeira a cantar interiormente a 'We Are The Champions'.
Eu sei, eu sei, sou uma criança e isto não é nada. Mas foi a minha primeira aula em laboratório. Nunca tinha sequer visto um cérebro animal, quanto mais manuseá-lo com material "cirúrgico" e microscópios xpto e compostos com nome esquisito. Deixem-me lá sentir-me um bocado Derek Shepherd, vá, só desta vez.
já tive um cérebro humano e às fatias na mão! :P
ResponderEliminarBITCH PLEASE!
ResponderEliminarhttp://www.ugobasile.com/catalogue/product/7950_small_animal_decapitator.html
[mwahahahahahahahahahahahah..........ahahahahahahhahahaah]
Afonso, lá no laboratório de farmacologia temos mesmo uma dessas! Não estou a gozar! Já usei ahahahah
ResponderEliminarMATASTE UM PEIXINHO PARA O ESTUDARES? COMO FOSTE CAPAZ???? COMO????????????
ResponderEliminarSó queria emendar uma coisa... Não era um microscópio, era uma lupa lol
ResponderEliminarAh e o post não é mediano para biólogos!!!
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