17 fevereiro 2012

Este post vai ser extremamente mediano para qualquer biólogo que ande por aí.

Ou mesmo para qualquer pessoa que tenha estado em Ciências no Secundário, na realidade. No entanto, como eu sou uma pobre criatura de Humanidades, a minha vida atingiu um novo nível hoje. Porque o segundo semestre do 1º ano do meu mestrado acabou de se tornar mesmo, mesmo interessante.

Tivemos hoje a primeira aula de Técnicas Laboratoriais em Psicobiologia, e apesar de algumas pessoas serem da opinião de que "as primeiras aulas de laboratório são sempre uma seca", eu nunca tinha estado mais do que 5 minutos num laboratório, portanto estava em modo criancinha-na-véspera-de-Natal.

Explicaram-me a parte teórica, passaram-me uma pipeta para as mãos, deixaram-me ligeiramente nervosa com as regras de segurança, e deixaram-me brincar um bocado. Mas mais do que isso deixaram-me consciente da responsabilidade que vamos ter ao longo das próximas semanas, dado que vamos estudar a actividade cerebral em peixes que NÓS vamos manipular.

Mas a primeira aula é sempre teórica, não é? Até ao momento em que dou por mim em frente a um aquário com um único peixe, a ver 2 gramas de anestésico serem despejadas lá para dentro. E depois, não sei como, dou por mim em frente a um microscópio, luvas calçadas, bisturi numa mão, pinça na outra, peixinho (já morto) no tabuleiro por baixo do microscópio, com a prof ao meu lado a dizer "vá, agora fazes uma incisão aqui, cortas o músculo com um golpe profundo e removes os pedaços de crânio, com cuidado para não danificar o cérebro". Ou qualquer coisa desse género, porque a única coisa que conseguia ouvir era o meu coração a bater-me nos ouvidos. Está bem que o peixinho já está morto, mas basta um movimento em falso e esta investigação vai toda com o camandro, para não falar da péssima impressão com que me ia carimbar imediatamente.

Ignorando a rápida imagem mental do meu pai a arranjar o peixe para o jantar, lá uso o bisturi para (tentar) expor o cérebro. Prof: "Isto tem de ser rápido, quanto mais tempo demorarmos mais rapidamente o cérebro se começa a desfazer". Não, na boa, sem pressão. Do nada deixo de sentir a mão esquerda, e de repente oiço um estrondo metálico. Olho para baixo e vejo a pinça no tabuleiro. A prof rosna: "Temos de ter muito cuidado com o material, basta isto cair verticalmente e acabou-se." Bacano. Enquanto começo a pensar se não teria sido melhor fazer um mestrado em corte-e-costura, lá pego na pinça outra vez, encosto os olhos à lupa do microscópio e tento coordenar os movimentos, sem olhar directamente para as mãos ou para o tabuleiro. O que parece meio metro de distância à lupa é para aí meio milímetro na realidade, mas dado que temos de ver tudo através do microscópio não podemos olhar directamente para o que estamos a fazer, o que torna a coordenação motora -matéria na qual já normalmente sou grande profissional, diga-se de passagem- um desafio interessante.

Prof: "Pronto, o cérebro assim já está exposto, agora usa a pinça para puxar o telencéfalo, e corta-o na base com o bisturi." Olho através da lupa. Gosma cinzenta all over. É suposto eu saber distinguir qual destas pseudo-bolinhas é que é o telencéfalo? Pensamento: "Isto com as corzinhas e as legendas dos slides era bem mais fácil...". Respiro fundo. Tento agarrar a pseudo-bolinha que teoricamente correspondia ao telencéfalo com a pinça. A bolinha escorrega. Tento agarrá-la outra vez. A p*** escorrega outra vez. Juro que consigo ouvir a sua vozinha a rir-se para mim enquanto mostra os dentes todos e diz "problem?". Agarro-a com todas as forças que o indicador e o polegar oponível me permitem, com a certeza absoluta que aquela merda vai explodir e espirrar matéria cinzenta por todo o lado. Ela aguenta. Uso o bisturi para a separar do resto do cérebro. Ela aguenta-se. YEY! Abro um dos tubos previamente identificados para o efeito, atiro a bolinha para dentro da solução, fecho o tubo, enfio-o numa taça cheia de gelo e levanto-me da cadeira a cantar interiormente a 'We Are The Champions'.

Eu sei, eu sei, sou uma criança e isto não é nada. Mas foi a minha primeira aula em laboratório. Nunca tinha sequer visto um cérebro animal, quanto mais manuseá-lo com material "cirúrgico" e microscópios xpto e compostos com nome esquisito. Deixem-me lá sentir-me um bocado Derek Shepherd, vá, só desta vez.

6 comentários:

  1. já tive um cérebro humano e às fatias na mão! :P

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  2. BITCH PLEASE!

    http://www.ugobasile.com/catalogue/product/7950_small_animal_decapitator.html

    [mwahahahahahahahahahahahah..........ahahahahahahhahahaah]

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  3. Afonso, lá no laboratório de farmacologia temos mesmo uma dessas! Não estou a gozar! Já usei ahahahah

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  4. MATASTE UM PEIXINHO PARA O ESTUDARES? COMO FOSTE CAPAZ???? COMO????????????

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  5. Só queria emendar uma coisa... Não era um microscópio, era uma lupa lol

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  6. Ah e o post não é mediano para biólogos!!!

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