06 fevereiro 2011

Lisboa


Porquê? Porque sim. Porque o amor profundo, irracional e incondicional que tenho por esta cidade é das poucas certezas que tenho na vida. Porque se não fosse esta não era mais nada. Porque me basta chegar para ter a certeza, e porque me basta ir para ter ainda mais certeza.

Para acalmar os bitaites: não é mania de Erasmus - é ideia fixa de há muito. E se algum dia me fartar, basta-me não olhar para ela (tarefa que me exige dois espelhos e alguma paciência). E mesmo que um dia me passe esta paixão assolapada -o que eu duvido- nunca vai deixar de fazer sentido, porque vai ser sempre a cidade onde eu nasci.

Não tatuei o símbolo de Lisboa porque queria fazer uma tatuagem - fiz uma tatuagem porque queria o símbolo de Lisboa. É tão simples quanto isso. E pode ser o que cada um de vocês estiver a pensar: pode ser feia (não é), pode ser redundante (também não), pode ser inútil porque não se vê a menos que tenha o cabelo apanhado (era mesmo esse o objectivo)... Para mim, é tudo de mim num só símbolo. E é quanto basta.

É uma daquelas coisas que não se consegue explicar. É um bocado como ser do Benfica: não se sabe o  porquê, não se explica, não se vê - sente-se. Sente-se ao fim da tarde no Cais das Colunas. Sente-se num orgulho inexplicável nas Festas de Lisboa. Sente-se nas lágrimas de emoção ao sobrevoar Lisboa num voo de regresso a casa. Sente-se ao olhar para um mapa e perceber que cada bocadinho desta cidade tem uma história, uma recordação, uma parte de mim. (Lisboa é o meu horcrux! ahah)

Tinha esta ideia há muito tempo. Fiz sondagens, investiguei partes do corpo, investiguei lojas onde fazer (aproveito para fazer publicidade indecente ao local onde acabei por fazer, eles são impecáveis e hiper higiénicos), esperei e esperei a ver se a ideia me passava. Não só não passou, como a vontade foi crescendo à medida que o tempo passava. Dei a mim própria até ao Natal passado - se a ideia continuasse fixa, fazia. Tremi que nem varas verdes até ao segundo antes de entrar na loja; pensei e repensei vezes sem conta nos prós e nos contras. Mas no momento em que vi o esboço na minha pele percebi que é isto. É tão isto.

Não há muito tempo o Duarte disse-me o seguinte:

« Não sei se para ti tem o mesmo significado, mas eis o que eu acho da tua tatuagem: Tu não serias tu se não fosses Lisboeta. O facto de seres sofisticada e teres uma mentalidade aberta também advém do facto de, como eu, teres crescido numa cidade "grande". De provinciana não tens nada. Ainda bem, não gosto de mentes pequenininhas e limitadas ao que conhecem. A oportunidade de estudar música, que te trouxe tanta sensibilidade, inteligência, beleza e conhecimento não está disponível em qualquer lado, muitos menos no nível em que é feito no Gregoriano. Numa aldeiazinha não terias tido acesso a isto. Lisboa é grande quando comparada com as restantes cidades portuguesas, mas se for comparada às capitais do mundo não é assim tão grande. Ser de Lisboa fez de ti também muito portuguesa, com aquele sentido crítico aguçado, com o gosto pelo cortar na casaca, sempre com peso e medida claro. Ser lisboeta é dar um salto à Caparica sempre que o sol raia, e portanto amar praia, mar e sol. É também querer conhecer diferente (por ser por vezes monótona), mas amar o tradicional (nada como a luz desta cidade num fim de tarde visto a partir de uma das Colinas). Por isso é que não me faz confusão que tenhas tatuado Lisboa na tua nuca, porque no fundo, tatuaste-te a ti própria em ti própria, um símbolo que te resume, com o bom e o mau, e isso faz todo o sentido. »

Obrigada Duarte, era mesmo isto. E, já agora, isto:

2 comentários:

  1. NÃO FIZESTE UM TRAMP STAMP A DIZER "TRAMP STAMP"! A nossa amizade está claramente acabada.

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  2. :) o Duarte tem razão, a Filipa gosta muito das palavras que o Duarte disse à madrini da Filipa

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