16 fevereiro 2011

DF

Olhando para trás, todas as coisas espectacularmente loucas que fiz (umas mais loucas que outras) me mudaram a vida para melhor. E antes de todas elas, sem excepção, senti sempre uma sensação de nervosinho no estômago. Mais do que isso, eventualmente todas elas me fizeram soltar um "Se calhar é melhor não ir..." na véspera do acontecimento.

Junho de 2005, ir não sei quantos dias de férias para um T2 na Ericeira com dez macacos, dos quais conhecia bem apenas um.
Março de 2006, peregrinação a Santiago de Compostela.
Outubro de 2008, largar tudo e ir para Amesterdão duas semanas.
Agosto de 2009, partir um mês em Interrail pela Europa com duas das pessoas que mais amo neste mundo, mas que são também das que têm personalidades mais difíceis de gerir.
Setembro de 2010, deixar Lisboa, família e amigos e ir viver para Itália um ano.
Fevereiro de 2011, partir um mês para o México.

Cidade do México. México DF. Segundo toda a gente com quem falo, a cidade mais perigosa do mundo.

O sentimento "Se calhar não devia ir..." é hoje mais forte do que nunca. O que só pode significar que vai ser a viagem da minha vida :)

Até Março!

15 fevereiro 2011

Cartao Dominó

Estava ontem a estudar na biblioteca, já naquela fase do desespero em que só de olhar para os livros já me parto a rir sozinha, quando caiu em mim uma verdade incontestável: o tempo em que a Blitz ainda era O Blitz era muito mais fácil. Era um tempo de aulas invariavelmente das 8h30 às 13h30, de senhas da cantina e de jogos de futebol no pátio. Era um tempo em que eu já chegava 20 minutos atrasada às aulas, mas em que a culpa ainda era da minha mãe e não minha. Era tempo de dizer "Bom dia stora!" quando entrava na sala, de a atravessar com calma apesar da aula já estar a decorrer, de me ir sentar no meu lugar de sempre, ao lado das pessoas de sempre, com tempo ainda para distribuir um ou dois 'hi fives' a quem me rodeava antes do rabo tocar na cadeira.

Era um tempo em que os professores sabiam os nossos nomes, e em que os números de aluno tinham apenas um digito e nao seis. Um tempo de lugares marcados, de faltas de material e de sacos de educaçao física recheados de sapatilhas e de roupa mal cheirosa. Tempo de me chamarem "ressacada" apenas porque chegava com cara de sono às aulas. Tempo de ler 'O Senhor dos Aneis' pela primeira vez, numa sala onde passava a Rádio Cidade e onde as pessoas jogavam matraquilhos sem garrafas de cerveja nem cinzeiros sujos à vista. Tempo de adorar os dias de reunião de pais por serem os dias em que podíamos ficar todos juntos no recreio até muito perto da hora de fecho da escola. Tempo de viver intensamente a excitação que antecipava uma festa de anos, principalmente quando envolvia dormirmos todos em casa de um de nós. Tempo de jogar ao 'Verdade ou Consequência' com um nervosinho no estômago. Tempo de sair da escola à socapa para fumar os primeiros cigarros. Tempo de comprar a 'Bravo'. Tempo de 'mandar toques' como principal forma de comunicação.

Era um tempo em que ainda se ligava para casa, e em que se passavam duas horas ao telefone com a melhor amiga dia sim dia não. Um tempo de conversas de meninas em que se discutia clandestinamente o que seria afinal um orgasmo. Tempo em que amizade significava trocar as capas coloridas dos Nokia 3310. Tempo em que dar linguados era uma ousadia. Tempo de ter cadernos do Harry Potter. Tempo de ficar duas horas na fila do Garage às 6as feiras à noite, e depois esperar pela boleia dos pais à porta. Tempo em que a palavra 'forever' nao era foleira mas sim essencial.

Tempo de passar bilhetinhos nas aulas (no nosso caso folhas A4 escritas até ao ultimo cm2) e tempo de irmos todos almoçar ao AC Santos e de cada um comprar um pão, uma fatia de queijo e outra de mortadela. Tempo em que loucura era roubar vernizes na loja do chinês. Tempo de comprar exactamente 0.50€ em gomas na Chequiná. Tempo de pedir pensos higiénicos à 'contina', porque nos veio 'a chica' e nao estávamos à espera. Tempo de ter notas de 1 a 5 e de ficar triste quando se recebia um 'Satisfaz'. Tempo de levar recados na caderneta. Tempo de aprender a jogar Copas e de fazer visitas de estudo em que a parte mais fixe era irmos todos juntos na camioneta (quanto mais longe melhor). Tempo de dizer 'buedá fixe' e de escrever com k's. Tempo de sentir o terror de ser a última escolhida para as equipas de futebol nas aulas de Educação Física, mas de pular de contentamento quando alguém informava que "hoje é basquet". Tempo de ouvir Silence 4 nas aulas de EVT.

Tempo em que os pais divorciados eram menos do que os pais casados. Tempo em que sair das aulas às 18h30 era deprimente. Tempo de começar a gostar de andar no Gregoriano. Tempo em que a decisão mais importante que se avizinhava nas nossas vidas era escolher para que área se ia no Secundàrio. Tempo de ler e reler o 'Viagem ao Mundo da Droga'. Tempo de sentir que aqueles só podiam ser os melhores anos das nossas vidas. Tempo de "morrer na praia" com um 49%, tempo de chamar "Vaca Aurora" à prof. de Matemática e de fazer os TPC's de inglês na própria aula. Tempo de sentir que as aulas serviam mais para estarmos juntos do que para outra coisa. Tempo de provas de aferição e de testes psicotécnicos. Tempo de entrar na biblioteca da escola apenas para requisitar livros da colecção 'Uma Aventura'. Tempo de ler 'Calvin' aos sábados de manha.

Era tempo de ler um livro em que um estudante universitário dizia 'Nunca me disseram que para andar na Faculdade era preciso ler tanta coisa!' e pensar que era de certeza um exagero. Tempo de só ter "amigos" e não "colegas". Tempo de ir ao cinema à tarde e em grupo (ao Londres, sempre ao Londres) e tempo de acreditar que o Cinema Alvalade ainda ia acabar de ser construido antes de nós acabarmos o 9° ano. Tempo de viajar no banco de trás do carro e de esperar junto ao rádio para gravar as músicas preferidas numa cassete (músicas que ficavam invariavelmente sem os primeiros 5 ou 6 segundos). Tempo de sonhar alto e sem pressa, por saber que a vida estava aí a caminho. Tempo de fazer amigos que nessa altura ainda não sabíamos que iam ser para a vida. Tempo de não ter liberdade, não ter autonomia, não ter namorado e não ter dinheiro próprio, mas ainda assim ser incontestavelmente feliz.

Tempo de chamar toda a gente por diminutivos. Tempo de ler O Blitz nas aulas com o Rú, o G, a Fifi, o Dé e a Nês. Os tais que afinal foram para a vida.

Quem não andou na Eugénio é um ovo podre.

13 fevereiro 2011

A última semana envolveu:

- acordar novamente às 6h da manhã, esperar 2 horas absolutamente aterrorizadoras para no fim passar com 22/30 no exame oral de Neurocienze feito pelo regente da cadeira (que tem ar de poucos amigos);
- perceber que afinal a pior coisa do mundo não são os minutos antes de entrar em palco para uma audição de violoncelo, mas sim os minutos antes de fazer um exame oral em italiano;
- iniciar a maratona de filmes nomeados para os Óscares deste ano;
- ver (e ficar extremamente desapontada com) o último filme do Woody Allen;
- ter um acidente de bicicleta que me lixou a perna direita, que neste momento me impede de sair de casa por não conseguir descer 5 andares a pé sem ganir de dor mas que me fez ganhar um pouco mais de respeito pelo sistema de saúde italiano;
- perceber que comprar bicicletas roubadas traz mau karma;
- perceber que tenho muita sorte em ter colegas de casa que me trazem a comida à cama;
- tentar mudar o design do blog, o designer de modelos falhar a meio e não conseguir retroceder nem avançar com a mudança (daí o actual aspecto horroroso do cabeçalho);
- compreender (boas) mudanças internas que não faço ideia como é que aconteceram;
- fazer um trabalho em inglês que me valeu a nota de 30/30 na cadeira de Psicologia della gestione delle risorse umane;
- perceber que tenho três exames nos próximos dois dias e que não faço a mais pequena ideia de como é que vou passar no de amanhã;
- perceber que daqui a 5 dias vou para a Cidade do México e que ainda não faço ideia do que é que vou enfiar na mala;
- esperar sinceramente que deixar este continente por 3 semanas e meia signifique deixar tudo o que me chateia também para trás... nem que seja só por esse tempo.

O balanço? É sempre positivo, claro. Mas desconfio que os medicamentos para as dores também ajudam nesse campo.

09 fevereiro 2011

Ultimato #2


É só eu voltar a acordar às 9h da manhã com Kylie Minogue aos berros. Ainda por cima posso sempre alegar insanidade temporária, como o Renato Seabra. Vai ser uma limpeza.

07 fevereiro 2011

Pergunta técnica #2

Porque é que "Olá, linda!" me dá pequenos vómitos mas "Ciao, bella!" soa bonito de mais para ser para mim?

06 fevereiro 2011

Lisboa


Porquê? Porque sim. Porque o amor profundo, irracional e incondicional que tenho por esta cidade é das poucas certezas que tenho na vida. Porque se não fosse esta não era mais nada. Porque me basta chegar para ter a certeza, e porque me basta ir para ter ainda mais certeza.

Para acalmar os bitaites: não é mania de Erasmus - é ideia fixa de há muito. E se algum dia me fartar, basta-me não olhar para ela (tarefa que me exige dois espelhos e alguma paciência). E mesmo que um dia me passe esta paixão assolapada -o que eu duvido- nunca vai deixar de fazer sentido, porque vai ser sempre a cidade onde eu nasci.

Não tatuei o símbolo de Lisboa porque queria fazer uma tatuagem - fiz uma tatuagem porque queria o símbolo de Lisboa. É tão simples quanto isso. E pode ser o que cada um de vocês estiver a pensar: pode ser feia (não é), pode ser redundante (também não), pode ser inútil porque não se vê a menos que tenha o cabelo apanhado (era mesmo esse o objectivo)... Para mim, é tudo de mim num só símbolo. E é quanto basta.

É uma daquelas coisas que não se consegue explicar. É um bocado como ser do Benfica: não se sabe o  porquê, não se explica, não se vê - sente-se. Sente-se ao fim da tarde no Cais das Colunas. Sente-se num orgulho inexplicável nas Festas de Lisboa. Sente-se nas lágrimas de emoção ao sobrevoar Lisboa num voo de regresso a casa. Sente-se ao olhar para um mapa e perceber que cada bocadinho desta cidade tem uma história, uma recordação, uma parte de mim. (Lisboa é o meu horcrux! ahah)

Tinha esta ideia há muito tempo. Fiz sondagens, investiguei partes do corpo, investiguei lojas onde fazer (aproveito para fazer publicidade indecente ao local onde acabei por fazer, eles são impecáveis e hiper higiénicos), esperei e esperei a ver se a ideia me passava. Não só não passou, como a vontade foi crescendo à medida que o tempo passava. Dei a mim própria até ao Natal passado - se a ideia continuasse fixa, fazia. Tremi que nem varas verdes até ao segundo antes de entrar na loja; pensei e repensei vezes sem conta nos prós e nos contras. Mas no momento em que vi o esboço na minha pele percebi que é isto. É tão isto.

Não há muito tempo o Duarte disse-me o seguinte:

« Não sei se para ti tem o mesmo significado, mas eis o que eu acho da tua tatuagem: Tu não serias tu se não fosses Lisboeta. O facto de seres sofisticada e teres uma mentalidade aberta também advém do facto de, como eu, teres crescido numa cidade "grande". De provinciana não tens nada. Ainda bem, não gosto de mentes pequenininhas e limitadas ao que conhecem. A oportunidade de estudar música, que te trouxe tanta sensibilidade, inteligência, beleza e conhecimento não está disponível em qualquer lado, muitos menos no nível em que é feito no Gregoriano. Numa aldeiazinha não terias tido acesso a isto. Lisboa é grande quando comparada com as restantes cidades portuguesas, mas se for comparada às capitais do mundo não é assim tão grande. Ser de Lisboa fez de ti também muito portuguesa, com aquele sentido crítico aguçado, com o gosto pelo cortar na casaca, sempre com peso e medida claro. Ser lisboeta é dar um salto à Caparica sempre que o sol raia, e portanto amar praia, mar e sol. É também querer conhecer diferente (por ser por vezes monótona), mas amar o tradicional (nada como a luz desta cidade num fim de tarde visto a partir de uma das Colinas). Por isso é que não me faz confusão que tenhas tatuado Lisboa na tua nuca, porque no fundo, tatuaste-te a ti própria em ti própria, um símbolo que te resume, com o bom e o mau, e isso faz todo o sentido. »

Obrigada Duarte, era mesmo isto. E, já agora, isto:

Pergunta técnica

Porque é que "Gosto muito de ti!" soa foleiro mas "Gosto muito de ti, pá!" já é socialmente aceitável?

02 fevereiro 2011

Death and all his friends

Não acredito que esta música está no meu iPod há quase 3 anos e que só hoje é que a ouvi com atenção. Realmente há músicas que às vezes ainda não se está preparado para ouvir. E depois, quando se passa a estar, elas lá arranjam maneira de passar no sítio certo, à hora certa.

Quem diz que os Coldplay são "uns nhónhós" e "uma seca" ou nunca ouviu com atenção ou só conhece a "Yellow". E o que eu odeio pessoas que falam do que não sabem, senhores.