29 janeiro 2011

Para que é que te foste enfiar em Itália - parte II

Ora bem: como eu até já sei do que é que a casa gasta, e porque mais vale prevenir do que remediar, e antes um pássaro na mão do que dois a voar, e... mais nenhum, anyone?... enviei no dia 12 de Janeiro um e-mail ao meu professor de Neuroscienze a confirmar que o exame era dia 29 de Janeiro às 8h30. Nem sequer barafustei com o facto do exame ser a um SÁBADO às 8H30 DA MATINA; simplesmente queria confirmar que estava tudo certinho para não haver hipóteses de falha desta vez. Escrevi "esami ERASMUS" no assunto, e no corpo do e-mail salientei que era uma "studentessa ERASMUS", assim com os maiúsculas todas a que tinha direito - e o senhor respondeu-me que sim senhor, negócio fechado, sábado dia 29 às 8h30 na morada tal. Ora a morada tal é longepaburro (outra zona aqui de Turim) por isso na noite anterior abstive-me de 'salir de fiesta', apesar de ser a festa de anos de um dos meus espanhóis, para dormir um número de horas minimamente aceitável e fazer o exame com cara de gente viva (que ele há noites que nem o corrector de olheiras apaga). Assim sendo, nessa manhã o meu despertador tocou às 6h.

Vou-vos dar um momento para absorverem esta informação.

Sim, às 6h da manhã. Sim, à hora a que devia estar a chegar a casa, não a acordar. Na noite anterior tinha visto o caminho no Google Maps, mas ainda assim achei melhor dar-lhe meia hora de margem de manobra, não fosse o diabo tecê-las.

Eu já devia saber. Aliás, eu até já sei. Claro que o eléctrico me deixou a aproximadamente 27 kms da paragem onde eu teoricamente tinha de sair. (Fiquei sem perceber se por falha minha, se por alteração temporária no trajecto - uma moda que eles adoptam muito aqui por estes lados.) Assim sendo, tive de andar a correr desenfreada por uma zona de Turim onde nunca tinha estado, de paragem de autocarro em paragem de autocarro para me certificar de que estava no sentido certo, até finalmente chegar à morada tal, com o relógio ali a dar as 8h32. Uffff.

Entrei, sentei-me. O professor fez a chamada dos aproximadamente 250 alunos que iam fazer exame (sempre a chamar os apelidos - e juro que só houve dois que se repetiram) e começou a distribuir os exames. Escritos. "Maaaau. Então não era oral?" Fui falar com o professor.
- "Ah, és Erasmus? Então só precisas de fazer o exame oral." Fica a olhar para mim com ar de parvo, com aquele meio sorriso de quem acha que já despachou o assunto e está à espera que o interlocutor vire as costas.
- "Que é quando?..."
- "5ª feira."
- [sorriso extremamente amarelo da minha parte] "Onde?"
- "Aqui!"
- [começo a rosnar] "A que hoooras?"
- "Às 8h30."

Acorda uma pessoa às 6h da manhã para isto?

Lá saí do edifício e comecei a caminhar, desta vez sem pressa. Eram 9h da manhã e a cidade estava calma, por isso resolvi ir a pé uma parte do caminho. Mas quando estava a chegar ao Parque Valentino (o parque da cidade que fica junto ao rio) olhei para a direita e ia tendo uma apoplexia. Pareceu-me ver um palácio, daqueles à antiga, estilo Versailles. Atravessei para o passeio do lado do rio, e assim que passei as primeiras árvores do parque, deu-se um daqueles momentos em que as estrelas se alinham no céu e em que por dois segundos deixa de haver mal no mundo, os anjos descem do céu a tocar harpas douradas e o mundo é um lugar cheio de arco-íris. O único carro que passava naquele momento na rua parou no semáforo e portanto fez-se momentaneamente silêncio, para que eu pudesse ouvir os passarinhos nas árvores e dar de caras com isto:





 Que, já agora, do rio se vê assim:




Wow. Right?! O Castello del Valentino, senhoras e senhores. Ao que parece actualmente ocupado pela Faculdade de Arquitectura de Turim. Eu também me habilitava a passar não sei quantas noites em branco a montar uma maquete, se fosse para ter aulas neste edifício.

E assim quase que valeu a pena levantar-me antes do sol. Quase, quase, quase. Faltou-lhe um bocadinho assim.

Porque... pronto, é isto.

É bem feita, que é para não te lembrares de ir fazer O ERASMUS para Itália

Tive no dia 24 o meu primeiro exame do ano aqui em Itália. Era às 9h30, mas como eu vivo longecomócaraças (é uma zona aqui de Turim) pus o despertador para as 6h50, para ter tempo de fazer tudo com calma e ainda rever as cenas antes de entrar.

A cena é que esta cadeira foi criada assim um bocado à socapa (para não dizer ilegalmente) para os alunos Erasmus - é em inglês e serve basicamente para dar trabalho ao prof. americano que aqui veio bater com os costados, e para não dar trabalho à prof. que nos devia estar a dar aulas. Para nós é fixe porque é só metade do semestre (foram ao total 6 aulas, uma por semana) e porque podemos substituí-la por qualquer uma das cadeiras em que estivermos inscritos a que não nos apetecer ir ou que nos der mais jeito em termos de créditos. Do género: imaginem que me faltavam 12 créditos para acabar a licenciatura - punha o nome de uma cadeira qualquer que valesse isso no meu plano de estudos, mas depois em vez de ir às aulas dessa cadeira ia a estas 6 aulas da trampa. Perceberam? É preciso um desenho? Não? Bom.

A desvantagem desta gandulice é que a cadeira, sendo ilegal, não consta em nada do que é lista - portanto eu não fazia puto de ideia onde raio era o exame. Dado que nenhum dos professores da cadeira me respondia aos e-mails, cheguei à faculdade meia hora mais cedo para ver se encontrava alguém que me pudesse ajudar. Nicles. Népia. Nem um sinal de vida. Perguntei ao porteiro - ele nem sabia quem era o professor.

"Ai o camandro..."

Percorri o edifício de cima a baixo, perguntei a toda a gente que encontrei. Nada. Vi e revi os mails - nicles. Quando chegou ali à barreira das 9h45, desisti e fui beber um café ao bar.
"Nada como um cappuccino para levantar os ânimos...", pensei eu. Qual quê? PIOR CAPPUCCINO DA HISTÓRIA DOS CAPPUCCINOS. Umas natas nojentas a boiar, aargh...
"Bom, ao menos o rapazinho na mesa ao lado da minha é giro - isso pelo menos não pode correr mal!", voltei a pensar para comigo própria. Say whaaat? O rapaz não só se levantou 2 segundos depois de eu me ter sentado, como quando voltou trazia pela mão o namorado. Jesus, piedade.

Enfim... Enfiei-me na biblioteca a estudar para o exame que tinha no dia seguinte, e a meio da tarde resolvi ver os e-mails outra vez: tinha um da professora assistente da cadeira a dizer: "Ah e tal cenas [nem "peço desculpa por não te ter respondido" nem nada], se quiseres aparece no meu gabinete às 17h que eu faço-te o exame."

Olho para o relógio. Que horas são?

17h20.

AAAAAHHHHHH!! Correr a arrumar tudo, chegar ao edifício do gabinete dela, bater à porta, perguntar à mulher que estava lá dentro onde é que estava a outra... professora. "Ah, saiu por um momento, espera aí fora."

Aparentemente um momento em Itália são 50 minutos. E quando finalmente a professora chegou e eu já estava psicologicamente preparada para um exame oral e para a eventualidade de ter de lhe dar a volta com a minha argumentação infalível, para que não se percebesse que não fui às aulas e que só estudei um dia antes do exame, ela passa-me uma folha para a mão: "São 30 perguntas de escolha múltipla, tens 15 minutos, podes começar."

"Ai o camandro..." - take 2.

Lá fiz o exame em 10 minutos (embalada pelo barulho das teclas super irritantes do computador dela) e entreguei-lhe as folhas para as mãos.

Aproveito para relembrar que as notas em Itália são de 0 a 30, não de 0 a 20 como na nossa terra, e que o mínimo necessário para passar é 18. Pois se o meu exame tinha 30 perguntas, ora isso dividido por 30 valores, ora... bom... sete vezes três vinte e um, noves fora nada... hmmm... bom, é uma questão de fazer as contas.

A professora começa a ler as perguntas. Na primeira página não assinala nada, e essa eu tinha a certeza que tinha toda bem, portanto lá me acalmei um bocado. Vira a página, e começa a fazer setinhas nas respostas. "Ok, ela está só a assinalar as erradas, deixa cá contar assim de surra mas sem olhar que é para não dar ar de quem está muito ansioso..." Uma setinha, duas setinhas, três setinhas...

"Ai o camandro..." - take 3

Terceira página. O exame tinha quatro páginas. Sete setinhas, oito setinhas... "Merda, devia ter estudado aqueles slides que passei à frente ontem à noite!"

Última página.

"Só posso errar 12, só posso errar 12..." Nove setinhas... "LARGA A MERDA DA CANETA, JÁ TÁ BOM, NÃO MEXE!!"

Silêncio. "Oi? Já parou?" [olhar de esgelha como quem não quer a coisa]

10 setinhas. "D'OH!!"

Mais silêncio. Desta vez mais prolongado. Encho-me de coragem e olho para ela. Está a sorrir. "Congratulations, you passed the exam."

TOMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!


One down, five to go.

28 janeiro 2011

Flush

Se há coisa que me irrita mais do que pessoas que levam meia hora a brincar com a comida no prato antes de a levarem efectivamente à boca (e o que me irrita isso, senhores...!) são autoclismos automáticos.

Não sei quem foi o senhor que inventou os autoclismos automáticos, mas seguramente nunca teve de utilizar nenhum. Senão teria rapidamente chegado à conclusão de que eles se activam quando uma pessoa entra no cubículo, que se tem de esperar uma média de 27 minutos até que a água pare de salpicar por todos os lados antes de se fazer seja o que for, e que quando finalmente se quer sair dali, aquela trampa não dispara nem que a pessoa dance a macarena.

25 janeiro 2011

O Alberto Caeiro enganou-se

O que incomoda como andar à chuva não é pensar, mas sim ler a Teoria da Sexualidade Infantil de Freud.

[arrepio na espinha]

E fazem a malta estudar isto. Não admira que os psicólogos sejam todos loucos da cabeça - devem ser só mentes traumatizadas e com Freud recalcado por essas faculdades fora.

24 janeiro 2011

Para celebrar o facto deste blog ter chegado ontem às 5555 visitas...


...ou então porque a alternativa a isto é eu ir estudar Psicologia della Comunicazione, vou então presentear-vos com os meus 5 Top 5. Vá, não fechem já a janela, que deste post incrivelmente inútil até pode sair algo de interessante para vocês. (Ou então não, sei lá eu.)

(Aviso já que os itens que constam nos Tops não têm qualquer tipo de hierarquia, que é para não ferir susceptibilidades. Como se alguém se importasse com o que eu gosto ou deixo de gostar.)


  Top 5 de coisas absolutamente idiotas que não sabiam sobre mim:

- tenho fobia a abelhas, não suporto sequer olhar para batatas greladas, e entro em parafuso se dou por mim sozinha no mar e não consigo ver-lhe o fundo;
- a primeira coisa que quis ser em pequena foi noiva. Depois mais tarde achei que se fechasse os olhos com muita muita muita força um dia ia conseguir transformar-me na Pocahontas. Ainda estou à espera.
- a minha cor preferida é o amarelo, e odeio roxo (é cor de morto);
- tenho a mesma reacção emocional para tudo: quando estou irritada, feliz, emocionada, triste, frustrada, seja o que for, tenho o instinto automático de começar a chorar. É um dom que deuznossenhor me deu. Excepção apenas para quando estou nervosa, em que começo a rir que nem uma louca. (Extremamente útil em funerais.)
- quando tinha 7 anos fundei com uma amiga uma banda chamada 'Abandapanhousoleficoulouca'. Ainda sei de cor os nossos dois primeiros singles.


Top 5 de filmes que posso rever 17 vezes na mesma semana sem me fartar:

- 'Pulp Fiction' de Quentin Tarantino;
- a trilogia 'The Lord of the Rings' de Peter Jackson (sim, só conta como um, não me chateiem);
- 'Trainspotting' de Danny Boyle;
- 'Moulin Rouge!' de Baz Luhrmann;
- 'The Hours' de Stephen Daldry.



Top 5 de guilty-pleasures:

- comer chocolate em pó às colheradas;
- ler revistas de merda (tipo Lux ou Maxmen) nas salas de espera dos consultórios;
- ver e rever episódios de 'Friends' como se não houvesse amanhã;
- deitar-me no chão a brincar com os meus priminhos e divertir-me mais do que eles;
- ver o 'Say Yes to the Dress' (eu sei, sou extremamente triste. Mas posso sempre justificar-me com um trauma de infância devido ao segundo item do primeiro Top lá de cima).


Top 5 de grupos musicais mais tocados no meu iPod:

- Coldplay;
- Nirvana;
- Xutos & Pontapés (cuidado, este vídeo pode chocar algumas pessoas mais sensíveis por aparecer o Tim há coisa de 20 anos e 30 kgs atrás);
- Cake;
- Deolinda.


Top 5 de obras de música erudita que me arrepiam completamente:

- 'Quadros de uma exposição' de Mussorgsky;
- 'La Bohème' de Puccini;
- 5ª Sinfonia de Mendelssohn;
- Concerto para violino de Tchaikovsky;
- 'Hymn to Saint Cecilia' de Britten.

(já sei que ninguém vai ouvir nada do que para aqui está, mas façam um favor a vocês próprios e oiçam só o último... É curtinho, tem a letra e tudo, o poema está em inglês e é absolutamente de morrer, e a música de Britten... enfim, dispensa comentários!)

10 janeiro 2011

Screw you, Google Analytics!

Hoje o Google Analytics disse-me que o meu blog já teve 15 visitas de pessoas que estavam no México. Mas não daquelas visitas acidentais, visitas que duram em média mais de um minuto. E perante estes factos só pude pensar "Uaaau, alguém no México gosta do meu blog...!" e ali durante 7 segundos senti-me mesmo importante.

Depois lembrei-me que um dos meus melhores amigos está a fazer Erasmus no México, e a minha vida deixou de ter tanta piada.

09 janeiro 2011

E, de repente, há esperança no mundo





É claro que isto é só o início, mas qualquer andamento serve. Não há dia que corra mal que não melhore com os "Quadros de uma Exposição" de Mussorgsky.

08 janeiro 2011

Alguém me dê a eutanásia, por favor

Partir pedra. Estudar em italiano é como partir pedra. Eu achava que estudar certas matérias era impossível, mas depois de não sei quantas horas a debater-me com o rei dos textos aborrecidos em italiano, uma obra sobre gestão de empresas ("mas tu não estavas em psicologia?", perguntou-me a minha mãe quando lhe disse isto. Pois, isso pensava eu.) qualquer livro de Froid em português me parece um livro do Noddy.

PS - Sim, FREUD está propositadamente mal escrito. Cambada de ignorantes que não compreendem ironias.

04 janeiro 2011

Oito um barra dois, já quase ali a atirar para as dez e um quarto

Dado que se estão a aproximar os exames orais que vou ter de fazer EM ITALIANO, e dado que passei 95% do meu Erasmus até agora a falar ESPANHOL, hoje fui ao clube de vídeo tentar alugar um filme do Fellini (sim, eu sou uma dessas pessoas que ainda vai a clubes de vídeo). Porquê Fellini? Porque um) salvo excertos acho que nunca tinha visto nenhum filme dele; dois) diz que são clássicos e must-see obrigatórios; três) assim sempre se junta a fome à vontade de comer e se ouve alguém a falar italiano, que mal não há de fazer.

Entrei pois pela loja dentro, envergando o meu ar mais confiante. Tentando evitar o habitual caos temático que são as prateleiras dos clubes de vídeo, fui directa ao assunto (achava eu) e abordei a senhora que estava ao balcão. A senhora, que entretanto devo acrescentar que tinha ar de exercer a ocupação de pseudo-satânica na Serra de Sintra às folgas e fins de semana, estava vidrada num filme que passava na televisão ali instalada, e deixou que passassem uns bons 20 segundos até que fizesse o obséquio de me dirigir o seu olhar. Quando finalmente consegui captar a sua atenção, achei que o melhor a fazer era ser o mais rápida possível antes que dispersasse outra vez - que longe de mim querer incomodar alguém que trabalha, vade retro. Seguiu-se então o diálogo:

eu - "Desculpe, boa tarde. Têm aqui algum filme do Fellini?"

senhora - "Quem?"

eu - "Do Fellini, o realizador. Têm aqui disponível para aluguer algum filme dele?"

senhora - (ar de enfado vezes 30) "Deixe ver..." (intercalar espreitadelas de meio minuto ao filme que estava a ver, enquanto pressiona o teclado do computador a uma média de 2 teclas por minuto) "Fellini?"

eu - "Sim, Fellini."

senhora - "É realizador?"

eu - (um pouco incrédula) "Pois..."

senhora - (mais uma espreitadela, este filme é mesmo bom) "É este? Fre... Frederico..."

eu - (algo bruscamente) "FEDERICO Fellini, é esse mesmo. Tem aqui algum filme dele?"

senhora - "Tenho aqui um... (a ler do ecrã) Fellini Roma. Depois tenho mais. Fellini a dolce vida... Fellini amaar... Amarc..."

eu - (já visivelmente irritada) "Amarcord. Mas só tem esses?"

senhora - "Tenho aqui outro... Fellini oito... depois um um, uma barra e um dois."

eu - (a engasgar-me) "Perdão?"

senhora - (com o sorriso de satisfação de quem já decifrou o problema) "Oito um barra dois, é isso. É este que quer levar?"



Resultado: acabei por vir para casa com o A DOLCE VIDA, o OITO UM BARRA DOIS, e uma questão existencial - se uma pessoa não percebe nada de cinema, porque raio é que se candidata para trabalhar num clube de vídeo?

02 janeiro 2011

(no fundo, acho que em 2011 quero ser tão feliz como a Faye Dunaway e o Warren Beatty no poster italiano do 'Bonnie and Clyde')


Quero que em 2011 as minhas acções não tenham consequências. Quero poder ser egoísta, egocêntrica, narcisista, quero agir inconsciente e inconsequentemente, sem ter de me preocupar por o que digo ou faço poder despertar opiniões, julgamentos ou -vade retro- emoções negativas em terceiros. Quero falar fluentemente italiano. Quero um corpete. Quero ser capaz de embrulhar alguns assuntos de vez e -perdoem-me a assonância intencional- ser finalmente plenamente feliz. Quero fazer um cartão de crédito para deixar de estar dependente da minha mãe em certas coisas. Quero emagrecer sem dificuldade. Quero não olhar mais para trás e perguntar "E se...?". Quero comprar mais roupa original. Quero ir aos saldos. Quero ter uma época de exames produtiva e que me deixe com aquela sensação quentinha de dever cumprido. Quero ter o ego sempre em altas. Quero voltar a sentir vontade espontânea de fazer exercício. Quero um casaco vermelho. Quero conhecer ainda mais pessoas, ainda mais interessantes. Quero que a tatuagem não me doa nada nada nada. Quero encontrar umas lentes de contacto que não me provoquem dores de cabeça ao fim de algumas horas. Quero ser mais eu, só eu. Quero fazer o check-up dermatologista-ginecologista-oftalmologista antes de me ir embora. Quero dar amanhã um mergulho no mar, sem hesitações e sem tremer de frio. Quero a minha franja de 2008 de volta. Quero ir ao México e passar os primeiros 20 minutos abraçada à pessoa que foi o meu único desejo para o meu 21º aniversário. Quero voltar a velejar. Quero um vestido comprido. Quero voltar a encontrar um livro que me arrebate e me inspire. Quero não ter medo - quero não ter medo de não saber agarrar as minhas pessoas, quero que elas me sejam eternas; quero deixar de tentar adivinhar outra tragédia familiar na voz da minha mãe de cada vez que ela me telefona, e quero não sentir arrepios quando o Canito começa a ladrar para o vazio ao mesmo tempo que lhe treme o corpo todo e que bate com a pata na porta do meu quarto. Quero aprender a estar ainda melhor sozinha. Quero ser fotografada pel' O Alfaiate Lisboeta. Quero não ter medo de voltar a pegar no violoncelo. Quero abraçar mais vezes as pessoas que encaixam mesmo. Quero finalmente encontrar uma edição em dvd do 'Once and Again'. Quero mais momentos com a família que não é de sangue, com direito a palminhas no genérico e crepes com chocolate quente às 5h da manhã. Quero que parem de me perguntar "Para quê?". Quero que as coisas boas sejam incontestáveis. Quero menos finais e mais introduções, daquelas tão bonitas que só podem levar-nos a um final feliz que no entanto ainda não se adivinha. Para 2011 não quero reticências, quero dois pontos verticais. Assim :